O método de “divisão” e a temporalidade no conhecimento das Ideias platônicas
DOI:
https://doi.org/10.47661/afcl.v15i29.45857Palabras clave:
Platão, Divisão, Tempo, Reminiscência, IdeiasResumen
A certa altura do Político de Platão, vemos o Estrangeiro estabelecer, no emprego do método de divisão, que não basta efetuar “divisões”, mas que é fundamental as partes divididas corresponderem a Ideias realmente existentes (262b-263a). A resposta do “jovem Sócrates”, seu interlocutor, é a desconcertante pergunta: “mas, com relação a isso, como saber que o gênero e a parte (desse modo tornada mais visível), não são idênticos mas diferentes entre si?” (263a). O desconcerto da questão é tal que o menino fica sem resposta. O motivo parece ser que ela aponta para o caráter “circular” do método de divisão, em vista do qual, desde a Antiguidade, este sofre uma acusação de petição de princípio. A “circularidade” no tempo seria que, se o que importa é, como resultado das divisões, que as Ideias se tornem “visíveis” a alguém (Político 262b), por outro lado, só pode efetuar a divisão certa aquela pessoa que, de um certo modo, já está “enxergando” a própria estrutura de Ideias (Sofista 253b-e). Nas palavras de Aristóteles, a divisão “é um tipo de silogismo fraco”, porque alcança ou quer provar aquilo de que ela já parte como pressuposto (An. Ant. 46a33). Contudo, a análise de passagens platônicas sobre a “reminiscência” e a relação das Ideias com o tempo pode indicar que Platão teria resposta para seu eminente discípulo. Afinal, não jaz, nas entrelinhas do famoso “paradoxo do Mênon” (“como procurar algo que não se sabe absolutamente o que é?”), a questão: é a Ideia “temporal”?
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