O testamento amoroso medieval e a querela da “Bela dama sem misericórdia”

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Resumo

Este artigo trata da imitação da forma testamentária pela poesia medieval, em particular pela lírica amorosa na França. Surgida em vernáculo no fim do século XIII como um desenvolvimento dos sermões em verso chamados de Vers de la Mort, a forma do testamento poético foi adaptada, em meados do século XV, à lírica cortês pelos poemas pertencentes à querela literária da Belle Dame sans Mercy, de Alain Chartier. Durante todo aquele período, esses dois modelos foram parodiados por diferentes gêneros cômicos como, por exemplo, bestiários burlescos, farsas e sátiras. Os dois poemas longos em forma de testamento atribuídos ao poeta francês medieval François Villon são uma paródia da inteira estrutura e das personagens do testamento amoroso da época. Pretende-se mostrar que o Lais e o Testament de Villon assumem uma posição clara naquela querela do lado dos detratores da bela dama sem misericórdia com vistas a criticar as inconstâncias do amor.

Biografia do Autor

Daniel Padilha Pacheco da Costa, Universidade Federal de Uberlândia, Uberlândia, MG

Professor do curso de Tradução e do Programa de Pós-graduação em Estudos Literários do Instituto de Letras e Linguística da Universidade Federal de Uberlândia (UFU). Doutor pelo Departamento de Letras Modernas da USP (Programa de Estudos Linguísticos, Literários e Tradutológicos em Francês), com um estágio doutoral de um ano na Université Paris-Sorbonne (Paris IV). Graduado em Filosofia pela Universidade de São Paulo e em Letras Francesas pela Université Sorbonne Nouvelle (Paris III), com proficiência em Língua Francesa. Integrante de grupos de pesquisa sobre tradução e antiguidade clássica. Tradutor profissional do francês, com ênfase em Filosofia Francesa Contemporânea.

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Publicado

2019-07-26

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Artigos