Para a Caraterização do Ensino e da Aprendizagem da Gramática em Portugal: as Perceções dos Professores

Autores

DOI:

https://doi.org/10.35520/diadorim.2017.v19n2a10034

Palavras-chave:

Ensino gramatical, Perceções de professores, Conhecimento do conteúdo gramatical, Conhecimento pedagógico do conteúdo gramatical, Conhecimento curricular

Resumo

O principal objetivo deste texto consiste em investigar de que forma, no contexto educativo português das últimas duas décadas, marcado por uma rápida sucessão de normativos curriculares relativos à educação linguística, o ensino gramatical é percecionado pelos professores do 1.º e do 2.º Ciclo do Ensino Básico, graus de ensino correspondentes aos primeiros seis anos de escolaridade (séries iniciais) do Ensino Fundamental.

Situando-nos no quadro da Linguística Educacional (SPOLSKY, 1999) e no domínio do ensino da gramática na língua materna em particular, analisamos e discutimos as perceções que estes docentes têm sobre o seu conhecimento profissional implicado no ensino da gramática, à luz do modelo proposto por SHULMAN (1987) e adaptado por GROSSMAN (1990). A escolha do quadro metodológico de investigação recaiu sobre o estudo de caso coletivo. Apresentamos os resultados da análise de dados recolhidos através de um inquérito por questionário, aplicado a 200 docentes, visando identificar (i) a importância atribuída e a frequência com que estes docentes trabalham o conhecimento gramatical, (ii) o grau de adequação percecionado quanto ao seu conhecimento do conteúdo e conhecimento pedagógico, bem como (iii) as dificuldades percecionadas no ensino-aprendizagem da gramática.

Os resultados permitem-nos assumir uma complexidade de fatores implicados na construção dessas perceções e potencialmente intervenientes no ensino da gramática: o conhecimento do conteúdo, o conhecimento pedagógico do conteúdo e também o conhecimento curricular. Com base nestes resultados, problematizamos o ensino da gramática sublinhando a necessidade de renovação da formação em práticas pedagógicas e de valorização das diferentes dimensões implicadas, de forma a que os docentes possam tomar opções pedagógicas mais consistentes quanto às suas implicações. Parece-nos, pois, necessário reequacionar a formação destes docentes, visando (re)consciencializar os professores da complexidade do conhecimento de base implicado no ensino gramatical e do seu efetivo papel na construção das aprendizagens dos alunos.

Biografia do Autor

Maria Cristina Vieira da Silva, Escola Superior de Educação de Paula Frassinetti / Centro de Investigação em Estudos da Criança - Universidade do Minho

Concluiu doutoramento e mestrado em Linguística na Universidade Nova de Lisboa, de cujo Centro de Linguística é membro colaborador, sendo investigadora integrada no Centro de Estudos da Criança da Universidade do Minho. É professora coordenadora no Departamento de Formação de Professores da Escola Superior de Educação de Paula Frassinetti, no Porto, na formação inicial e pós-graduada, dirigindo, desde 2008, o Mestrado em Ciências da Educação, área de especialização em Animação da Leitura  e, desde 2016, o Mestrado em Ensino do 1.º Ciclo do Ensino Básico e de Português e História e Geografia de Portugal no 2.º Ciclo do Ensino Básico. Os seus atuais interesses de investigação situam-se no ensino-aprendizagem da gramática, no desenvolvimento da linguagem, da didática do português e na competência leitora.

Íris Susana Pires Pereira, Instituto da Educação, Campus de Gualtar, Universidade do Minho, 4710-057 Braga, Portugal

Íris Susana Pires Pereira is an Assistant PhD teacher and researcher at the Departamento de Estudos Integrados de Literacia, Didáctica e Supervisão in the Institute of Education, University of Minho, Portugal.

Referências

COSTA, Ana Luísa. Estruturas contrastivas: desenvolvimento do conhecimento explícito e da competência de escrita. 2010. Dissertação (doutoramento em Linguística Educacional) -- Faculdade de Letras, UL, Lisboa, 2010. Disponível em http://repositorio.ul.pt/handle/10451/2216. Acesso em: 30 abril 2017.

DELGADO-MARTINS, Maria Raquel et al. Para a Didáctica do Português. Seis Estudos de Linguística. Lisboa: Colibri, 1992, pp. 165-177.

DESPACHO n.º 17169/2011. Diário da República, 2.ª série N.º 245 de 23 de dezembro de 2011. p. 50080. Disponível em https://www.dge.mec.pt/sites/default/files/Basico/Legislacao/despacho_17169_2011.pdf. Acesso em: 30 abril 2017.

DGEBS. Organização Curricular e Programas. Lisboa: Direção Geral do Ensino Básico e Secundário -- Ministério da Educação, 1991. Disponível em http://www.colegiopedroarrupe.pt/folder/galeria/ficheiro/14_Programa1CicloEB_brtlvw81nf.pdf. Acesso em: 30 abril 2017.

DGIDC. Posição dos Docentes Relativamente ao Ensino da Língua Portuguesa. Lisboa: Direção Geral de Inovação e Desenvolvimento Curricular -- Ministério da Educação, 2008. Disponível em http://profpaulo.weebly.com/uploads/3/9/4/7/394769/posicaodosdocentesseminario.pdf. Acesso em: 30 abril 2017.

DUARTE, Inês. O Conhecimento da Língua: Desenvolver a Consciência Linguística. Lisboa: Direção Geral de Inovação e Desenvolvimento Curricular, 2008. Disponível em http://area.dge.mec.pt/gramatica/O_conhecimento_da_lingua_desenv_consciencia_linguistica.pdf. Acesso em: 30 abril 2017.

DUARTE, Inês. Língua Portuguesa. Instrumentos de Análise. Lisboa: Universidade Aberta, 2000.

DUARTE, Inês. “Algumas boas razões para ensinar gramática”. In.: A Língua Mãe e a Paixão de Aprender. Actas. Porto: Areal, 1998, pp. 110-123.

DUARTE, Inês. “Oficina gramatical: contextos de uso obrigatório de conjuntivo”. In.: DELGADO-MARTINS, Maria Raquel et al. Para a Didáctica do Português. Seis Estudos de Linguística. Lisboa: Colibri, 1992, pp. 165-177.

DUARTE, Inês. “Funcionamento da Língua: a periferia dos NPP”. In.: DELGADO-MARTINS, Maria Raquel et al. Documentos do Encontro sobre os Novos Programas de Português. Lisboa: Colibri, 1991, pp. 45-59.

REIS, Carlos et al. Programas de Português do Ensino Básico. Lisboa: Direção Geral de Inovação e Desenvolvimento Curricular - Ministério da Educação, 2009. Disponível em http://www.colegiopedroarrupe.pt/folder/galeria/ficheiro/14_ProgramasPortugues_skr9m3gn77.pdf. Acesso em: 30 abril 2017.

SHULMAN, Lee. “Knowledge and teaching: foundations of the new reform”. Harvard Educational Review 57 (1), pp. 1-22, 1987. Disponível em https://people.ucsc.edu/~ktellez/shulman.pdf. Acesso em: 30 abril 2017.

SILVA, António Carvalho. “A configuração do ensino da gramática nos novos manuais de português do 9.º ano”. Diacrítica n.º 30/1, pp. 83-112, 2016. Disponível em http://ceh.ilch.uminho.pt/publicacoes/Diacritica_30-1.pdf. Acesso em: 30 abril 2017.

SIM-SIM, Inês; DUARTE, Inês; FERRAZ, Maria João. Língua Materna na Educação Básica: Competências Nucleares e Níveis de Desempenho. Lisboa: Departamento de Educação Básica, 1997. Disponível em http://www.cfaematosinhos.eu/A_Lingua_%20Materna_na_%20Educacao_%20Basica.pdf. Acesso em: 30 abril 2017.

SPOLSKY, Bernard. Introduction to the feld In.: SPOLSKY, Bernard (ed.). Concise Encyclopedia of educational Linguistics. Oxford: Elsevier, 1999. p. 1-6.

TRAVAGLIA, Luiz Carlos. Gramática e interação: uma proposta para o ensino de gramática no 1º e 2º graus. São Paulo: Cortez, 2000.

TRAVAGLIA, Luiz Carlos. Gramática: ensino plural. São Paulo: Cortez, 2003.

UCHA, Luísa (coord.). Desempenho dos alunos em Língua Portuguesa -- ponto da situação. Lisboa: Direção Geral de Inovação e Desenvolvimento Curricular -- Ministério da Educação, 2007.

Disponível em http://www.dge.mec.pt/sites/default/fles/Basico/Documentos/desempenho_alunos_dgidc.pdf. Acesso em: 30 abril 2017.

WATSON, Annabel. Te problem of grammar teaching: a case study of the relationship between a teacher's beliefs and pedagogical practice. Language and Education 29 (4), p. 332-346, 2015

Downloads

Publicado

2017-12-29

Edição

Seção

I. Para a abordagem reflexiva da gramática