A literatura no contexto multilíngue de Macau: não pertencimento, abandono e orfandade

Autores

DOI:

https://doi.org/10.35520/diadorim.2020.v22n1a32016

Palavras-chave:

Liteartura de Macau, multilinguismo, orfandade

Resumo

 

O principal objetivo deste trabalho é percorrer um pequeno, mas significativo repertório da literatura da RAEM, através de um aporte multilíngue, às vezes, recorrendo a traduções, para identificar vozes de grupos que se apresentam ou são apresentados como que destituídos do centro do poder, embora, em princípio, seja possível mostrar, através da interlocução das vozes, que centro e periferia alternam-se conforme as circunstâncias culturais, históricas e políticas. Essa é uma amostra de uma pesquisa que se pretende mais alargada em termos de repertório, sendo que parte dos mesmos problemas e da mesma abordagem. Metodologicamente, o acréscimo de línguas na análise literária será usado como “suplemento”, tal qual Joan Scott (2011) o emprega para pensar a história das mulheres a partir de Um teto todo seu, de Virgínia Woolf, ou seja, um termo que não chega a construir uma resolução dialética como propõe a episteme ocidental, através de uma indefinição propositada. Isso significa dizer que não se trata de observar o não pertencimento, os órfãos e os abandonados somente pelo viés de novos objetos temáticos dentro de um discurso estabelecido, mas permitir que as suas vozes, mesmo que representadas, desestabilizem certas ações discursivas consagradas.

Biografia do Autor

Monica Munis de Souza Simas, Universidade de São Paulo

É livre docente do Programa de Literatura Portuguesa da USP, coordenadora do LIA e do Grupo Porta Macau: literaturas, línguas e culturas.

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Publicado

2020-09-21

Edição

Seção

Dossiê de Língua/Language Dossier