ANÁLISE VARIACIONISTA DA ORDEM DOS CLÍTICOS PRONOMINAIS NO PORTUGUÊS DE MOÇAMBIQUE

Autores

DOI:

https://doi.org/10.35520/diadorim.2021.v23n1a39621

Palavras-chave:

Ordem, Clíticos pronominais, Sociolinguística, Português, Variedade moçambicana.

Resumo

Com base em aporte da Teoria da Variação e Mudança (WEINREICH, LABOV, HERZOG; 1968; LABOV, 1972; 1994; 2003), o presente artigo tem como objeto de estudo a ordem de clíticos pronominais na variedade urbana do Português de Moçambique, de modo a investigar os contextos de realização das variantes pré-verbal (próclise) e pós-verbal (ênclise) na modalidade falada. Tomando por base o princípio da heterogeneidade ordenada, investiga-se a atuação de possíveis elementos condicionadores da variação, de natureza estrutural ou extralinguística, atentando, sobretudo, aos chamados problemas da restrição e do encaixamento. Para a investigação da colocação pronominal com formas verbais simples, são analisados dados de entrevistas com indivíduos que possuem o Português como L1 ou L2, homens e mulheres, distribuídos por diferentes faixas etárias e níveis de escolaridade, disponibilizados no Corpus Moçambique-Port (VIEIRA; PISSURNO, 2016). Além das variáveis extralinguísticas, são controladas variáveis de natureza linguística, relacionadas à forma pronominal, ao verbo e à oração em que a estrutura se insere. A partir dos resultados obtidos nesta investigação e em estudos anteriores, verifica-se certa instabilidade na ordem dos clíticos pronominais na variedade urbana do Português de Moçambique, o que pode estar associado, a um só tempo, ao estágio de formação da variedade e à complexa situação de multilinguismo presente na sociedade moçambicana. Desse modo, embora, em termos quantitativos, a variedade apresente tendências – como a preferência pela variante pós-verbal – que a aproximam da variedade europeia, sua suposta norma de referência, verifica-se que essa tendência à norma é parcial, mesmo na ausência dos elementos chamados proclisadores. Essa realidade, em alguns contextos estruturais, a aproximaria, em termos qualitativos, ao comportamento do Português do Brasil, já que, em Portugal, há inclinação à variante pré-verbal necessariamente em contextos com proclisadores Os resultados ora apresentados possibilitam, assim, caracterizar os padrões da ordem dos clíticos pronominais em dados urbanos do Português de Moçambique.

Biografia do Autor

Ana Carolina Alves Caetano, Universidade Federal do Rio de Janeiro

Mestranda em Língua Portuguesa pela UFRJ. Graduada em Língua Portuguesa- Literaturas pela mesma instituição. Desenvolve pesquisa na área de Linguística, com ênfase em colocação pronominal na variedade moçambicana do português.

 

Silvia Rodrigues Vieira, Universidade Federal do Rio de Janeiro/Professora associada

Professora associada (nível IV) do Departamento de Letras Vernáculas da Faculdade de Letras da UFRJ, Bolsista de produtividade 2 do CNPq (2015; 2018). Foi Pesquisadora FAPERJ, contemplada nos Programas Jovem Cientista do Nosso Estado 2011 (2012-2015) e Cientista do Nosso Estado 2014 (2015-2018). Possui Doutorado (2002) e Mestrado (1995) em Letras Vernáculas (Língua Portuguesa), além de Graduação em Português-Inglês pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (1992). Atua nos Programas de Pós-graduação em Letras Vernáculas e no Mestrado Profissional em Letras, na UFRJ. Coordenadora de projetos de pesquisa nacional e de cooperação internacional (com destaque ao Grupo de trabalho da ALFAL - Projeto 21), organizadora de bancos de dados para análises linguísticas (Corpus Concordância; Moçambique, Fala-Escrita; Estilo), sua produção bibliográfica conta com organização de livros e periódicos, capítulos publicados em livros, artigos em periódicos e trabalhos em anais de congressos no âmbito nacional e internacional. Atua principalmente nas áreas da Sociolinguística, sobretudo no que se refere à descrição de variedades do Português, e do Ensino de gramática.

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Publicado

2021-06-30

Edição

Seção

Dossiê de Língua/Language Dossier