GOTAS DE HISTÓRIAS: MÁRCIA KAMBEBA REGISTRA A MEMÓRIA ANCESTRAL DOS OMÁGUA/KAMBEBA
DOI:
https://doi.org/10.35520/diadorim.2022.v24n1a48318Palavras-chave:
Márcia Kambeba, tempo cíclico, natureza, memória ancestral, história.Resumo
Márcia Kambeba, integrante do povo Omágua/Kambeba, é uma multiartista que utiliza palavra e imagem (poesia e fotografia) para registrar e divulgar a cultura dessa nação, assim como para se posicionar frente ao pensamento hegemônico ocidental, que subjuga os indígenas e seus saberes. Dessa maneira, sua produção poética tem registrado a relação que se estabelece entre a natureza, a memória e a história de sua etnia. O trabalho examina os poemas “O tempo do clima”, “Gota pequena” e “Aldeia Tururucari-Uka”, a fim de analisar a conexão estabelecida pela escritora e por seu povo com o tempo da natureza (ANTILEO, 2019), a memória cultural (JECUPÉ, 2020) e a história (BENJAMIN, 1987), apontando a necessidade de abertura para a diversidade de saberes e a autodeterminação histórica dos povos originários. Márcia Kambeba desenvolve uma poética que valoriza e visibiliza a cultura do povo Omágua/Kambeba, em contraposição ao olhar eurocêntrico, ao apresentar outras formas de narrar a história indígena, a partir de uma temporalidade atravessada por sua subjetividade artística e pela história e memória cultural de seu povo.
Márcia Kambeba, member of the Omágua/Kambeba people, is a multi-artist that uses word and image (poetry and photography) to record and publicize the culture of this nation, and also to make a stand against hegemonic western thought that subdues indigenous folks and their knowledge. Moreover, her poetic production has registered the relationship established between nature, memory and history of her ethnic group. This work examines the poems “O tempo do clima”, “Gota pequena”, and “Aldeia Tururucari-Uka” to analyze the connection determined by the writer and her people with the time of nature (ANTILEO, 2019), the cultural memory (JECUPÉ, 2020), and history (BENJAMIN, 1987), aiming the necessity of opening to the diversity of knowledge and the historical self-determination of original folks. Márcia Kambeba cultivates a poetics that gives value and brings visibility to the culture of the Omágua/Kambeba people, in opposition to the Eurocentric view, by presenting other ways of narrating indigenous history, from a temporality crossed by the author’s artistic subjectivity and by the history and cultural memory of her people.
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