Morfologia Cognitiva, uma abordagem construcionista: fundamentos teórico-epistemológicos e análise da construção [X-cefalia] no português brasileiro

Autor/innen

  • Natival Almeida Simões Neto Universidade Federal da Bahia, Programa de Pós-Graduação em Língua e Cultura. Salvador, BA, Brasil | Universidade Estadual de Feira de Santana, Programa de Pós-Graduação em Estudos Linguísticos. Feira de Santana, BA, Brasil https://orcid.org/0000-0001-7972-2396

DOI:

https://doi.org/10.35520/diadorim.2024.v26n1a63457

Abstract

Este artigo tem como principal objetivo apresentar os fundamentos teóricos e metodológicos da Morfologia Cognitiva, modelo proposto por Hamawand (2011) e ainda pouco conhecido no território brasileiro. Essa formulação se alinha com a Gramática Cognitiva, de Langacker (1987), e com a Linguística Cognitiva, de uma maneira geral. Assim, a Morfologia Cognitiva é um modelo construcionista que defende a morfologia como semanticamente motivada, entendendo que as construções morfológicas materializam simbolicamente operações cognitivas, como a conceptualização, a categorização e a configuração. Além disso, nessa proposta, por conta da assunção de pressupostos da Linguística de Corpus, há um compromisso explícito com o tratamento do uso. Por isso, a Morfologia Cognitiva deve ser compreendida como um modelo linguístico baseado no uso. No corpo do texto, os fundamentos da Morfologia Cognitiva são discutidos em três seções (“Pressupostos Cognitivos”; “Mecanismos Cognitivos” e “Operações Cognitivas”). Apresenta-se, também, uma aplicação ao português brasileiro, através da análise da construção X-cefalia, que tem realizações consagradas, como microcefalia e hidrocefalia, e outras inovadoras, como filtrocefalia ‘condição de quem tem a cabeça com forma de filtro de barro’, machocefalia ‘condição de quem pensa demais em homem’ e bundacefalia ‘condição de quem tem a bunda pequena'. Ao todo, foram analisadas 40 realizações desse padrão compositivo, sendo 16 dicionarizadas e 24 não dicionarizadas. Os resultados mostram que há um uso prototípico de X-cefalia, na designação de anomalias da anatomia craniana. Esse uso é preponderante no contexto médico-científico e, do ponto de vista formal, tende a exibir bases eruditas na posição à esquerda (microcefalia, hidrocefalia, braquicefalia). Esse protótipo é estendido no que toca aos aspectos formais, e as construções inovadoras passam a admitir bases vernáculas na primeira posição (filtrocefalia, machocefalia, bundacefalia). Do ponto de vista semântico, os usos inovadores de X-cefalia apontam três significados diferentes, que se estendem metafórica ou metonimicamente do uso prototípico.  

Autor/innen-Biografie

Natival Almeida Simões Neto, Universidade Federal da Bahia, Programa de Pós-Graduação em Língua e Cultura. Salvador, BA, Brasil | Universidade Estadual de Feira de Santana, Programa de Pós-Graduação em Estudos Linguísticos. Feira de Santana, BA, Brasil

Doutor pelo Programa de Pós-Graduação em Língua e Cultura, da Universidade Federal da Bahia. Possui mestrado em Linguística Histórica (2016) e graduação em Letras Vernáculas (2014), por essa mesma instituição. É também graduando em Língua Estrangeira Moderna ou Clássica, na habilitação de Letras Clássicas (Latim/Grego). Está atuando como professor substituto no Departamento de Letras Vernáculas da Universidade Federal da Bahia, ministrando disciplinas das áreas de Diversidade e Produção Textual em Língua Portuguesa e História e estrutura da Língua Portuguesa. É membro do Grupo de Estudos em Semântica Cognitiva (GESGOG), grupo vinculado ao Programa Para a História da Língua Portuguesa (PROHPOR). É membro associado da Associação Brasileira de Linguística (ABRALIN), desde 2016, e do Grupo de Estudos Linguísticos do Nordeste (GELNE), desde 2014. Tem interesse na morfologia, no léxico e na semântica do português e das demais línguas românicas.

Veröffentlicht

2024-09-30

Ausgabe

Rubrik

v26n1 - LING: Funcionalismo norte-americano e Gramática de Construções: diálogos em aberto