O ATO DE FALA DA “RECUSA A CONVITES” NOS LIVROS DIDÁTICOS DE ENSINO DE LÍNGUA ESTRANGEIRA: PORTUGUÊS BRASILEIRO E ITALIANO
DOI:
https://doi.org/10.35520/diadorim.2022.v24n2a50688Palavras-chave:
Recusas a convites, Competência pragmática, Livros didáticos, Português língua estrangeira (PLE), Italiano L2Resumo
Questões relacionadas ao uso da língua são importantes para o ensino-aprendizagem de uma língua estrangeira (LE). Nesse sentido, o Quadro Europeu Comum de Referência para as línguas (QECR, 2001) orienta que, como parte integrante da competência comunicativa, a competência pragmática deve estar presente nos livros didáticos de LE, para que o aprendente adquira consciência do funcionamento da língua-alvo. Tendo como foco livros didáticos de LE, o objetivo deste estudo é apresentar como o ato de fala das recusas a convites é abordado nos manuais de ensino e, assim, também verificar em qual medida os livros didáticos promovem a competência pragmática. Na fundamentação teórica, apresentamos os estudos dos atos de fala e de linguagem (AUSTIN, 1962; KERBRAT-ORECCHIONI, 2005); da análise da conversação (KERBRAT-ORECCHIONI, 2014); caracterizações sobre a recusa em geral (BEEBE et al., 1990; GASS; HOUCK, 1996) e sua realização em português brasileiro (BLANCO, 2015, entre outros) e em italiano (VERZELLA; TOMMASO, 2020, entre outros). Para o corpus do presente artigo, elegemos dois livros de LE que abrangem os níveis de A1 a B2 do QECR: Novo Avenida Brasil de português (PLE) e Nuovo Espresso de italiano L2. Lançando mão do método descritivo-analítico, após a elaboração de uma tabela de referência baseada em estudos anteriores sobre a recusa, apontamos como esse ato é apresentado e tratado nos livros didáticos. Por fim, nas considerações, traçamos um paralelo entre os livros sob análise para verificar em que medida podem ajudar as/os aprendentes a desenvolver diferentes aspectos da competência pragmática.
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