Os Jangadeiros Libertos e o Caldeirão da Santa Cruz do Deserto
Movimentos de um Nordeste Negro Insurgente
Résumé
O historicídio das lutas autônomas dos negros e dos povos originários no Nordeste brasileiro leva-nos ao desconhecimento de suas revoltas, insurgências e formas de resistências. Além de brancocêntrica, a interpretação dos conflitos etnico-raciais no Brasil produziu uma hierarquia do saber que favorece as histórias de estados da região sudeste, desenhando uma complicada geopolítica do conhecimento sobre a formação do país. Este artigo é uma introdução a dois episódios de insurgência negra travados em território cearense e seus respectivos personagens. Partindo das contribuições de intelectuais negros como Abdias Nascimento (1985), Clóvis Moura (2021), Flávio Gomes (2015) e Wallace de Moraes (2021), que oferecem uma visão crítica sobre a história e a necessidade de se entender a questão racial como sendo central para compreender a formação do país, analiso a ação conduzida por negros libertos que, por meio do associativismo e de alianças temporárias com brancos, criaram o clube dos libertos e comandaram as paralisações que impediram o tráfico negreiro que ficaram conhecidas como “greve dos jangadeiros”; e também a comunidade do Caldeirão da Santa Cruz do Deserto, que existiu entre os anos de 1894 e 1936. Primeiro, apresento alguns aspectos que fazem dos jangadeiros libertos um relevante movimento na história das lutas populares negras do Brasil escravista. Depois, procuro identificar os argumentos que culminaram no que chamo de desracialização dos negros no Nordeate. Por fim, faço uma leitura racializada sobre o beato José Lourenço e a comunidade do Caldeirão da Santa Cruz do Deserto, situando-a como uma experiência entre a autogestão e o quilombismo no pós-abolição.
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