Raízes

Abstract

O ensaio “Raízes” trabalha o conceito de pertencimento e memória por meio do registro do cotidiano do ambiente de casa, com foco em elementos da natureza e cenas corriqueiras. Inspirado na técnica utilizada por Stephen Gill, fotógrafo britânico, em seu trabalho “Hackney Flowers”, as fotografias foram produzidas com uma câmera DSLR, tratadas, impressas, e compostas com as flores, folhas e plantas disponíveis no jardim da casa onde mora a autora. Enfim, as imagens finais foram capturadas com uma câmera de celular.

A associação entre plantas, afeto e família se dá devido a intensa convivência com dois familiares, tio e avô, tendo estes passado adiante todo o seu conhecimento sobre a fauna e a flora local, tal como o cuidado com o plantio e a importância de se manter conectado com a natureza. Por terem formação na área ambiental e vindo do interior do Espírito Santo, a ligação com este universo se deu também como uma forma de manter viva a memória de suas raízes e resgatar uma prática comum para eles.

Após ter se mudado para a casa onde o ensaio foi realizado, notou na nova família uma característica comum à de seus avós: a relação entre o cultivo de plantas e cuidado com pássaros era igualmente latente e pelos mesmos motivos. Vindos de cidade pequena, a preservação das árvores e roseiras no jardim atravessava gerações.

Assim sendo, encontrou nas fotomontagens manuais, unindo o registro tradicional à uma espécie de colagem, uma forma de homenagear ambas as famílias, fazendo uso exclusivo de suas plantas (e até temperos) mais queridas. Procurou registrar cenas com contexto e campo de visão aberto, a fim de não perder a sensação de aproximação da cena e a simulação da altura dos olhos, reforçando a ideia de se estar inserido na própria fotografia, em primeira pessoa. Os elementos e cenas foram selecionados de maneira a passar a ideia de que um complementa o outro, sendo os espaços estrategicamente preenchidos de memórias afetivas.

“Raízes” tem motivação profundamente afetiva e pessoal, visando mostrar de forma sutil o quanto o sentido de herança pode ser múltiplo e, neste caso, intrínseco à nossa essência. O que é herdado nem sempre pode ser visto com os olhos, mas pode ser sentido em cada canto de nossas casas.