Campo lexical do curandeirismo em inquéritos policiais do século XIX

Autores

DOI:

https://doi.org/10.24206/lh.v6i3.35305

Palavras-chave:

Filologia. Lexicologia. Campos lexicais. Curandeirismo. Inquérito policial.

Resumo

Partindo da teoria dos campos lexicais proposta por Eugenio Coseriu, apresentam-se aqui os resultados de uma pesquisa desenvolvida em um corpus específico: inquéritos policiais produzidos em Sergipe, nas últimas décadas do século XIX, que registram crimes motivados pelo exercício de práticas místico-religiosas de cura. Através da investigação do universo lexical dos documentos, objetivou-se entender, em primeiro plano, no que consistia e como era realizada a atividade do curandeiro, e, secundariamente, identificar as imagens e representações dessa prática, as relações de poder e a presença de aspectos do discurso civilizador que vigorava no período, especialmente no que concerne à preocupação com a saúde pública. O trabalho segue os pressupostos teórico-metodológicos da Filologia, em seu labor de edição de textos, da Lexicologia, com ênfase na teoria dos campos lexicais, e dos Estudos da História Sociocultural sobre o curandeirismo no Brasil. A estruturação do campo lexical do curandeirismo e suas respectivas subdivisões, que agrupam as lexias presentes nos inquéritos investigados, representativas das práticas e saberes tradicionais de cura, possibilitou uma reflexão sobre uma parcela da história cultural do século XIX, ajudando a entender a criminalização do curandeirismo e o preconceito e perseguição ainda vigentes às pessoas que se dedicam a essa prática.

Biografia do Autor

Renata Ferreira Costa, Universidade Federal de Sergipe

Professora Adjunta do Departamento de Letras Vernáculas, do Programa de Mestrado Profissional em Letras e do Programa de Pós-Graduação em Ciência da Informação da Universidade Federal de Sergipe, campus de São Cristóvão. Doutora em Letras pela Universidade de São Paulo. Líder do Grupo de Estudos Filológicos em Sergipe - GEFES-CNPq.

Larissa Pinheiro Santos, Universidade Federal de Sergipe

Graduada em Letras Português pela Universidade Federal de Sergipe. Membro do Grupo de Estudos Filológicos em Sergipe - GEFES-CNPq.

Letícia Santos, Universidade Federal de Sergipe

Graduada em Letras Português pela Universidade Federal de Sergipe. Membro do Grupo de Estudos Filológicos em Sergipe - GEFES-CNPq.

Referências

ABBADE, Celina Márcia de Souza. Os campos lexicais do Livro de Cozinha da Infanta D. Maria. Anais da XX Jornada Nacional de Estudos Linguísticos – GELNE. João Pessoa, PB: Ideia, 2004, p. 437-444.

ABBADE, Celina Márcia de Souza. Lexicologia social: a lexemática e a teoria dos campos lexicais. In: ISQUERDO, Aparecida Negri; SEABRA, Maria Cândida Trindade Costa de (Orgs.). As ciências do léxico: lexicologia, lexicografia, terminologia. Vol. VI. Campo Grande, MS: Ed. UFMS, 2012. p. 140-161.

ALMEIDA, Diadney Helena de. Um estudo das interações culturais entre curandeiros e médicos acadêmicos no Rio de Janeiro Oitocentista. XIII Encontro de História Anpuh-Rio, p. 1-10, 2008.

ANTHONY, Laurence. AntConc. Versão 3.4.4w. Japan: Waseda University, 2014.

ARQUIVO GERAL DO JUDICIÁRIO (Ed.). MARC/C. 2º OF – Inquérito Policial, Cx. 01/1014.

ARQUIVO GERAL DO JUDICIÁRIO (Ed.). MAR/C. 2º OF – Inquérito Policial, Cx. 01/1833.

BENVENISTE, Emile. Problemas de Linguística Geral I. 3. ed. São Paulo: Pontes, 1991.

BIDERMAN, Maria Tereza Camargo. Fundamentos da Lexicologia. Teoria Lingüística: lingüística quantitativa e computacional. Rio de Janeiro: Livros Técnicos e Científicos, 1978, p. 71-166.

BURKE, Peter. Linguagens e comunidades nos primórdios da Europa Moderna. Trad. Cristina Yamagami. São Paulo: Editora UNESP, 2010.

CÂMARA JR., Joaquim Mattoso. Língua e cultura. Transcrito da Revista Letras, p. 51-59, 1955. Disponível em: https://revistas.ufpr.br/letras/article/view/20046/13227. Acesso em: 20 maio 2020.

CAMBRAIA, César Nardelli; MEGALE, Heitor. Filologia Portuguesa no Brasil. D.E.L.T.A., Vol. 15, Nº Especial, 1999.

CHERNOVIZ, Pedro Luiz Napoleão. Diccionario de medicina popular e das sciencias accessorios para uso das familias, contendo a descripção das Causas, symptomas e tratamento das moléstias; as receitas para cada molestia; As plantas medicinaes e as alimenticias; As aguas mineraes do Brazil, de Portugal e de outros paizes; e muitos conhecimentos uteis. 6. ed. Paris: A Roger & F Chernoviz, 1890. 2 v. Disponível em: https://www.bbm.usp.br/pt-br/dicionarios/diccionario-de-medicina-popular-e-das-sciencias-accessórias-para-uso-das-familias/. Acesso em: 13 jul. 2019.

COSERIU, Eugenio. Principios de Semántica Estructural. Madrid: Gredos, 1977.

COSERIU, Eugenio. Gramática, semántica, universales estudios de la lingüística funcional. 2. ed. rev. Madrid: Gredos, 1987.

COSTA, Maria. Influências do discurso médico e do higienismo no ordenamento urbano. Revista da ANPEGE, v. 9, n. 11, p. 63-73, jan./jun. 2013.

DURANTI, Alessandro. Antropología Lingüística. Trad. Pedro Tena. Madrid: Cambridge University Press, 2000.

ELIAS, Norbert. O processo civilizador: Uma história dos costumes. V.I. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 1994.

FACHIN, Phablo Roberto Marchis. Descaminhos e dificuldades: leitura de manuscritos do século XVIII. Goiânia: FAPESP, 2008.

FARIA, Marcelo. Destruindo a farsa do “não temos provas (sobre Lula), mas temos convicção. Ilisp, 15 set. 2016. Disponível em: http://www.ilisp.org/artigos/destruindo-farsa-do-nao-temos-provas-sobre-lula-mas-temos-conviccao/. Acesso em: 25 maio 2020.

GRINBERG, Keila. A História nos porões dos arquivos judiciários. In: PINSKY, Carla Bassanezi; LUCA, Tania Regina de (Orgs.). O historiador e suas fontes. São Paulo: Contexto, 2009. p. 119-139.

GONDRA, José Gonçalves. Artes de civilizar: medicina, higiene e educação escolar na Corte Imperial. Rio de Janeiro: Ed. UERJ, 2004.

HAVELOCK, Eric A. A revolução da escrita na Grécia e suas consequências culturais. Trad. Ordep José Serra. São Paulo: Editora da Universidade Paulista; Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1996.

JACÓ-VILELA, Ana Maria et al. Os estudos médicos no Brasil no século XIX: contribuições à Psicologia. Memorandum, 7, p. 138-150, 2004. Disponível em: http://www.fafich.ufmg.br/~memorandum/artigos07/artigo09.pdf. Acesso em: 18 maio 2020.

KATO, Mary A. Como, o que e por que escavar? In: ROBERTS, Ian; KATO, Mary A. (Orgs.). Português Brasileiro: uma viagem diacrônica: homenagem a Fernando Tarallo. 2 ed. Campinas, SP: Editora da UNICAMP, 1996, p. 13-27.

LINS, Ivan. História do Positivismo no Brasil. São Paulo: Companhia Editora Nacional, 1964.

MANSANERA, Adriano Rodrigues; SILVA, Lúcia Cecília da. A influência das idéias higienistas no desenvolvimento da psicologia no Brasil. Psicologia em Estudo, v. 5., n. 1, p. 115-137, 2000.

MARCOTULIO, Leonardo Lennertz et al. Filologia, história e língua: olhares sobre o português medieval. São Paulo: Parábola, 2018.

MATTOS E SILVA, Rosa Virgínia. Para a História do Português Culto e Popular Brasileiro: sugestões para uma pauta de pesquisa. In: ALKMIM, Tania Maria (Org.). Para a História do Português Brasileiro. Vol. III: Novos Estudos. São Paulo: Humanitas/FFLCH/USP, 2002, p. 443-464.

MEGALE, Heitor; TOLEDO NETO, Sílvio de Almeida (Orgs.). Por minha letra e sinal: documentos do ouro do século XVII. Cotia, SP: Ateliê Editorial, 2005.

MORAES SILVA, Antonio de. Diccionario da Lingua Portugueza. Lisboa: Lacérdina, 1813. Disponível em: http://200.144.255.59/catalogo_eletronico/consultaDocumentos.asp?Tipo_Consulta=Acervo&Acervo_Codigo=2&Setor_Codigo=11. Acesso em: 13 jul. 2019.

OLIVEIRA, Ana Maria Pinto Pires, ISQUERDO, Aparecida Negri. (Orgs.). As ciências do léxico: lexicologia, lexicografia, terminologia. Campo Grande, MS: Ed. UFMS, 1998.

PASSOS, Márcia Maria Barros dos et al. A disseminação cultural das garrafadas no Brasil: um paralelo entre medicina popular e legislação sanitária. Saúde Debate. Rio de Janeiro, v. 42, n. 116, p. 248-262, jan./mar. 2018.

PINTO, Luís Maria da Silva. Diccionario da lingua brasileira. Ouro Preto: Typographia de Silva, 1832. Disponível em: https://www.bbm.usp.br/pt-br/dicionarios/diccionario-da-lingua-brasileira/. Acesso em: 13 jul. 2019.

PUTTINI, Rodolfo Franco. Curandeirismo, curandeirices, práticas e saberes terapêuticos: reflexões sobre o poder médico no Brasil. Revista de Direito Sanitário, São Paulo, v. 11, n. 3, p. 32-49, nov. 2010/fev. 2011.

ROMANO, Rogério Tadeu. Do inquérito policial e da investigação criminal promovida pelo Ministério Público, s/d. Disponível em: https://www.jfrn.jus.br/institucional/biblioteca-old/doutrina/Doutrina265-do-inquerito-policial.pdf. Acesso em: 20 maio 2020.

SANTOS, Edmar Ferreira. O poder dos candomblés: perseguição e resistência no Recôncavo da Bahia. Salvador: EDUFBA, 2009.

SEABRA, Maria Cândida Trindade Costa de. Língua, cultura, léxico. In: SOBRAL, Gilberto Nazareno Telles; LOPES, Norma da Silva; RAMOS, Jânia Martins (Orgs.). Linguagem, sociedade e discurso. São Paulo: Blucher, 2015. p. 65-84.

SILVA, Eugênia Andrade Vieira da. Guia de fontes temáticas. Aracaju: Tribunal de Justiça, 2009.

SOUZA, Laura de Mello e. O diabo e a terra de Santa Cruz: feitiçaria e religiosidade no Brasil Colonial. 2. ed. São Paulo: Companhia das Letras, 2009.

TEIXEIRA, Maria da Conceição Reis. Representação do sertão baiano em Seara Vermelha, de Jorge Amado: o campo lexical dos trabalhadores. In: FARGETTI, Cristina Martins; MURAKAWA, Clotilde Almeida Azevedo; NADIN, Odair Luiz (Orgs.). Léxico e cultura. Araraquara, SP: Letraria, 2015. p. 65-71.

ULLMANN, Stephen. Semântica: uma introdução à ciência do significado. Trad. José Alberto Osorio Mateus. 4. ed. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 1964.

Downloads

Publicado

20-12-2020