A solfa do Romance da Bela Infanta: uma melodia italiana do século XVII teria sobrevivido na tradição oral brasileira?
DOI:
https://doi.org/10.24206/lh.v8i1.47127Palavras-chave:
Musicologia histórica. Tradição Oral. Etnomusicologia. Folclore Brasileiro. Música Antiga.Resumo
O artigo avalia a hipótese de que o Ballo di Mantova, melodia italiana cuja versão mais antiga registrada data do início do século XVII, possa ter influenciado a música brasileira de tradição oral. Segundo Luigi Ferdinando Tagliavini, essa "melodia errante" se difundiu por toda a Europa ainda no seiscentismo na forma de música vocal profana, hinos religiosos, danças, peças para teclado ou tablaturas para alaúde e guitarra. Foi utilizada por compositores eruditos nos séculos XVIII e XIX como Mozart e Smetana, e é encontrada "ainda em vida" nos dias de hoje no folclore do norte da Itália. No entanto, esse motivo musical também está presente em algumas peças do folclore brasileiro, recolhidas na Paraíba, Bahia, São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais por Guilherme de Mello, Ariano Suassuna e Rossini Tavares de Lima.
Referências
ANDRADE, Mário de; CASCUDO, Luís da Câmara. Cartas: 1924-1944. Marcos Antonio de Moraes (Org.). São Paulo: Global Editora, 2010.
ANDRADE, Mário de. Música, doce música. São Paulo: Martins Fontes, 1963.
CASCUDO, Luís da Câmara. Vaqueiros e Cantadores: Folclore poético do sertão de Pernambuco, Paraíba, Rio Grande do Norte e Ceará. Porto Alegre: Edição da Livraria do Glôbo, 1939.
CASCUDO, Luís da Câmara. Cinco Livros do Povo: Introdução ao Estudo da Novelística no Brasil. Rio de Janeiro: José Olympio Editora, 1953.
CASCUDO, Luís da Câmara. História da Imperatriz Porcina: Crónica de uma novela do século XVI popular em Portugal e no Brasil. Lisboa: Álvaro Pinto, 1952.
CASTAGNA, Paulo; TRINDADE, Jaelson. Música pré-barroca luso-brasileira: O Grupo de Mogi das Cruzes. Revista da Sociedade Brasileira de Musicologia, São Paulo, n. 2, p. 12-33, 1996.
[CENCI, Giuseppe?], Fuggi, fuggi, fuggi da questo cielo, dueto de câmara, primeira metade do séc. XVII. Localizado em: Biblioteca do Conservatório Musical Luigi Cherubini, Florença, Itália. I-Fc, Ms. 85. Arm.o A ; CF.83 ; DAM.1965, f. 80v.
COOK, Nicholas. Agora somos todos (etno)musicólogos. Pablo Sotuyo Blanco (Trad.). Ictus – Periódico do Programa de Pós-Graduação em Música da UFBA, vol. 7, p. 7-32, 2006.
COUSSEMAKER, Edmond de. Chants populaires des Flamands de France. Gand: F. et E. Gyselynck, 1856.
HAYNES, Bruce. The End of Early Music. A Period Performer’s History of Music for the Twenty-First Century. Oxford: Oxford University Press, 2007.
JEFFERY, Peter. Re-envisioning Past Musical Cultures: Ehnomusicology in the Study of Gregorian Chant. Chicago: University of Chicago Press, 1992.
KELLY, Thomas Forrest (Org.). Oral and Written Transmission in Chant. Farnham, Burlington: Ashgate, 2009.
KUIJKEN, Barthold. The Notation is Not the Music: Reflections on Early Music Practice and Performance. Bloomington: Indiana University Press, 2013.
LEYDI, Roberto. L’Altra Musica: Etnomusicologia: come abbiamo incontrato e creduto di conoscere le musiche delle tradizioni popolari ed etniche. Firenze: Giunti-Ricordi, 1991.
LIMA, Rossini Tavares. Notas sôbre o Romance da Donzela ou da Menina que Morreu de Febre Amarela. Comissão Catarinense de Folclore: Boletim Trimestral. Florianópolis: IBECC/ Imprensa Oficial do Estado de Santa Catarina, 1952, p. 79-89.
LIMA, Rossini Tavares de. Romanceiro folclórico do Brasil. São Paulo: Irmãos Vitale, 1971.
MACCHIARELLA, Ignazio. Il falsobordone: fra tradizione orale e tradizione scritta. Lucca: Libreria Musicale Italiana, 1995.
MAILLART, Petrus. Den Gheestelijcker Nachtegael. Antwerpen: Jan Cnobbert, 1634.
MELLO, Guilherme Theodoro Pereira de. A Música no Brasil: Desde os tempos coloniaes até o primeiro decênio da República. Bahia: Typographia de S. Joaquim, 1908.
MENÉNDEZ-PIDAL, Gonzalo, Romancero Hispánico: Hispano-portugués, americano y sefardí, 2 vol. Madrid: Espasa-Calpe, 1953.
MOZART, Wolfgang Amadeus. Ah, vous dirai-je maman. Variationen für Pianoforte solo. K. 265/300a [1780-82?]. Leipzig: Ed. Peters, [18--]. 1 partitura.
NETTL, Bruno, Música folklórica y tradicional de los continentes occidentales. Miren Rahm (Trad.). Madrid: Alianza Editorial, 1985.
RUIZ, Irma. La integración musicológica y su aplicación a la investigación en las regiones rurales de las antiguas misiones católicas en Sudamérica. Revista de Musicología, Madrid, v. 16, n. 3, p. 1766-1770, 1993.
SALINAS, Francisco de. De Musica libri septem. Salamanca: Mathias Gastius, 1577.
SELFRIDGE-FIELD, Eleanor. Social Cognition and Melodic Persistence: Where Metadata and Content Diverge. In: ISMIR 2006: 7th International Conference on Music Information Retrieval, Victoria, 2006. Disponível em: http://ismir2006.ismir.net/PAPERS/ISMIR0625_Paper.pdf. Acesso em: 7 out 2021. Não paginado.
STARO, Placida. Il canto delle donne antiche: Con garbo e sentimento. [Lucca]: Libreria Musicale Italiana, 2001.
SUASSUNA, Ariano, Aula-espetáculo filmada no Anfiteatro 9 da Universidade de Brasília, 1997. Homenagem a Ariano Suassuna. Brasília: CPCE/UnB, 2014. Disponível em: https://vimeo.com/125500839. Acesso em: 7 out 2021.
TAGLIAVINI, Luigi Ferdinando. Il Ballo di Mantova, ovvero "Fuggi, fuggi da questo cielo", ovvero "Cecilia", ovvero… In: Max Lütolf zum 60. Geburtstag – Festschrift. Basel: Wiese Verlag, p. 135-175, 1994.
TAGLIAVINI, Luigi Ferdinando; TAMMINGA, Liuwe. Ancora sul Ballo di Mantova alias canto di "Cecilia", alias "Noël suisse". In: L’Organo: Rivista di cultura organaria e organistica, vol. 46, p. 5-56, 2014.
TAPPERT, Wilhelm. Wandernde Melodien: Eine musikalische Studie. Leipzig: List & Francke, 1890.
WAISMAN, Leonardo J. Una musicología integrada para latinoamérica. In: Revista de Musicología, Madrid, v. 16, n. 3, p. 1771-1777, 1993.
WIORA, Walter. Europäischer Volksgesang. Köln: Arno Volk-Verlag, 1952.
ZANETTI, Gasparo. Il Scolaro. Milano: Carlo Camagno, 1645.
Downloads
Arquivos adicionais
- Figura 1 – Fuggi, fuggi, fuggi da questo cielo, dueto de câmara de "Giuseppino" (Giuseppe Cenci?)Sem título
- Figura 2 – La Mantovana
- Figura 3 – Wonderbaer was den Boom, hino religioso holandês.
- Figura 4 – Ik zag Cecilia komen, hino religioso de origem flamenga recolhido na França por Edmond de Coussemaker em meados do século XIX.
- Figura 5 – W. A. Mozart, Variationen für Pianoforte solo “Ah, vous dirai-je Maman” K. 265/300a, 1780-82?
- Figura 6 – O tema do rio Moldau em Má Vlast ("Pátria-mãe"), poema sinfônico composto por Smetana entre 1875 e 1879.
- Figura 7 – Bal del Barabén, cantado por Maria Grillini em Ronco di Monghidoro, 1974.
- Figura 8 – Solfa do romance Dona Silvana, recolhido por Guilherme de Mello na Bahia.
- Figura 9 – Solfas do Romance da Bela Infanta recolhidas por Mello e Cascudo e transcritas em Vaqueiros e Cantadores
- Figura 10 – Amei uma donzela, versão do Romance da Donzela recolhida por Rossini Tavares de Lima em Caxambú, MG, 1949.
- Figura 11 – Dezoito anos de idade, versão do Romance da Donzela recolhida por Rossini Tavares de Lima em São José dos Campos, SP, 1951.
- Figura 12 – Rapaz eu vou te contar, versão do Romance da Donzela recolhida por Rossini Tavares de Lima em Friburgo, RJ, 1951.
- Figura 13 – Ideglauda saiu chorando, versão do Romance da Silvaninha recolhida por Rossini Tavares de Lima no bairro da Móoca, São Paulo, SP, 1950.
- Figura 14 – Bom dia, papai, mamãe, versão do Romance do Antoninho recolhida por Rossini Tavares de Lima em São Paulo, SP, 1949.
- Figura 15 – Bom dia, papai, mamãe, versão do Romance do Antoninho recolhida por Rossini Tavares de Lima em São Paulo, SP, 1950.
- Figura 16 – Bela pastorinha, versão do Romance Linda-a-Pastora recolhida por Rossini Tavares de Lima em Ibitinga, SP, 1950.
- Figura 17 – Frase inicial da valsa Lágrimas de Saudades, composta, ou transcrita, por Osorio Ayres, cerca de 1920.
Publicado
Edição
Seção
Licença
Os autores que publicam nesta revista concordam com o seguinte:
a. Os autores detêm os direitos autorais dos artigos publicados; os autores são os únicos responsáveis pelo conteúdo dos trabalhos publicados; o trabalho publicado está licenciado sob uma Licença Creative Commons Atribuição-NãoComercial 4.0 Internacional, que permite o compartilhamento da publicação desde que haja o reconhecimento de autoria e da publicação pela Revista LaborHistórico.
b. Em caso de uma segunda publicação, é obrigatório reconhecer a primeira publicação da Revista LaborHistórico.
c. Os autores podem publicar e distribuir seus trabalhos (por exemplo, em repositórios institucionais, sites e perfis pessoais) a qualquer momento, após o processo editorial da Revista LaborHistórico.