Formas de tratamento e papéis sociodiscursivos em debates políticos televisivos em Portugal: 1975-2022

Autores

DOI:

https://doi.org/10.24206/lh.v10i2.63403

Palavras-chave:

Formas de Tratamento, Relações interpessoais, Debate político, Mudanças sociodiscursivas, Pragmática

Resumo

As formas de tratamento (FT) são uma categoria pragmática que relaciona língua e sociedade. Os seus usos alteram-se com as mudanças sociais, com a aproximação e redimensionamento dos vários estratos sociais, numa relação não especular. Dependem dos géneros discursivos em que são usadas e das relações entre interlocutores e respetivos papéis sociodiscursivos, que ajudam a construir. O quadro teórico-metodológico é a Pragmática Discursiva, por isso considerámos centrais as noções de género de discurso e de contexto. Partimos da síntese da investigação sobre o sistema de FT em Português Europeu, tendo em conta as categorias de Cintra (1972): FT pronominais, nominais e verbais. Enquadramos a reflexão sobre as FT, como relacionemas (Kerbrat-Orecchioni, 1992), no género debate político televisivo enquanto discurso em interação. São eventos discursivos centrais que convocam a política e a comunicação social e nos quais as FT têm função nuclear. O objetivo principal é descrever e explicar como, neste género discursivo e numa perspetiva diacrónica, os papéis sociodiscursivos dos interlocutores e a organização interacional condicionam o uso das FT. O corpus é constituído por seis debates, realizados entre 1975 e 2022. Os resultados mostram mudanças no uso, sobretudo das FT nominais, nestes quase 50 anos, com mais proximidade e informalidade no presente, e maior distância e deferência nos debates iniciais da democracia. As diferenças notam-se não nas FT empregadas pelos políticos entre si, mas nas usadas pelos jornalistas-moderadores relativamente aos políticos. São também analisados os efeitos pragmáticos do uso da delocução pela alocução, frequente entre os políticos nos debates.

Biografia do Autor

Maria Aldina Marques, Universidade do Minho. Braga, Guimarães, Portugal

Maria Aldina Marques é Professora Associada com agregação do Departamento de Estudos Portugueses e Lusófonos, da Escola de Letras, Artes e Ciências Humanas da Universidade do Minho, Portugal. É investigadora integrada do  Centro de Estudos Humanísticos da Universidade do Minho (CEHUM), e colaboradora do Centro de Estudos Linguísticos da Universidade do Porto (CLUP). Doutorada, em 2000, em Ciências da Linguagem, ramo de Linguística Portuguesa, pela universidade do Minho, tem participado, como coordenadora e como membro da equipa, em projetos de investigação nestas áreas, tem orientado trabalhos de mestrado, doutoramento e pós-doutoramento, e tem trabalhos em publicações nacionais e internacionais. As principais áreas de investigação são a análise dos discursos, numa perspetiva linguística, com especial destaque para os discursos políticos, jornalísticos, e os discursos orais.

Isabel Margarida Duarte, Universidade do Porto. Porto, Portugal

Isabel Margarida Duarte é Professora Catedrática de Linguística da Faculdade de Letras da Universidade do Porto. Fez Doutoramento em Linguística, Mestrado em Ensino da Língua Portuguesa e Licenciatura em Filologia Românica na Universidade do Porto. É investigadora do centro de Linguística da Universidade do Porto. As suas áreas de investigação centrais são Pragmática e análise do discurso (relato de discurso, marcadores discursivos; discurso oral); confronto entre línguas românicas e aplicação da Linguística ao ensino do Português (língua materna e não materna). Orientou várias teses de Doutoramento, de mestrados e de pós-doutoramento. Tem inúmeras publicações em revistas e livros nacionais e internacionais.

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Publicado

05-10-2024

Edição

Seção

Artigos - Dossiê "Formas de tratamento em português"