Pepetela e a História Angolana na Longa Duração: A Releitura do Passado diante do Corpo-Presente

Autores

  • Roberta Guimarães Franco

DOI:

https://doi.org/10.35520/mulemba.2022.v14n26a53823

Resumo

Este artigo propõe uma leitura de publicações de Pepetela que reencenam o distante passado colonial – Lueji, o nascimento de um império (1989); A gloriosa família: o tempo dos flamengos (1997); e A sul. O sombreiro (2011). Com uma vasta obra, os romances de Pepetela transitam entre enfrentar o presente e visitar um passado distante, não para reescrever uma versão da História, mas para propor formas de leitura da nação, desde a sua formação – do colonialismo à independência – até a contemporaneidade. Trata-se aqui de pensar estas obras sobre o passado colonial distante como desvios diante de uma produção maioritariamente voltada para o presente, como Mayombe (1979), A geração da utopia (1992), Predadores (2005) e o mais recentes Sua excelência, de corpo presente (2018), Pepetela se dedicou a pensar a nação a partir de um mergulho profundo no seu passado, realizando outra leitura sobre a construção de Angola sem apresentar uma mera culpabilização dos colonizadores, mas repensando os agentes de movimentos e ações que parecem bastante presentes na classe dirigente atual. Portanto, o conceito de “longa duração” de Fernand Braudel é utilizado para refletir sobre o diálogo proposto por Pepetela com fontes documentais do período colonial não apenas para recriá-las em um sentido paródico, mas como forma de pensar a nação como resultado de um longo processo que não pode ser anulado.AGAMBEN, Giorgio. O que é o contemporâneo? e outros ensaios. Tradução: Vinicius Nicastro Honesco. Chapecó, SC: Argos, 2009.ASHCROFT, Bill; GRIFFITHS, Gareth; TIFFIN, Helen. The Empire Writes Back. New York: Routledge, 2010.BENJAMIN, Walter. Teses sobre a filosofia da história. In: Sobre Arte, Técnica, Linguagem e Política. Lisboa: Relógio D’Água, p. 157-170, 1992.BRAUDEL, Ferdinand. História e Ciências Sociais. A longa duração. Tradução: Ana Maria de Almeida Camargo. Revista de História. Vol. XXX, no. 62, p. 261-294, 1965.CADORNEGA, António de Oliveira de. História geral das guerras angolanas. 1680- 1681. (Anotado e corrigido por José Matias Delgado). Lisboa: Agência Geral do Ultramar, 1972. 3 Tomos.CHAVES, Rita. Angola e Moçambique: experiência colonial e territórios literários. São Paulo: Ateliê Editorial, 2005.FERREIRA, Manuel. Literaturas africanas de expressão portuguesa. Amadora: Bertrand Venda Nova, 1977.FRANCO, Roberta Guimarães. “História e literatura, real e ficcional em A gloriosa família, o tempo dos flamengos”. In: MAGALHÃES, José Sueli de et al. (orgs). Literatura e intersecções culturais. Uberlândia: EDUFU, 2008, p. 1472-1476.FRANCO, Roberta Guimarães. Conquista e resistência na “História Geral das Guerras Angolanas”, de António de Oliveira de Cadornega. XIV Jornadas Interescuelas/Departamentos de Historia. Departamento de Historia de la Facultad de Filosofía y Letras. Universidad Nacional de Cuyo, Mendoza, p. 1-11 2013.FRANCO, Roberta Guimarães. O não lugar de António Oliveira de Cadornega na literatura angolana e a sua recriação no romance de Pepetela. In: FRANCO, Roberta Guimarães; MELONI, Otavio Henrique; KANO, Ivan Takashi (org.). A mesma palavra outra: ensaios sobre literatura portuguesa e literaturas africanas de língua portuguesa. Niterói: Vício de leitura, p. 189-206, 2010.FRANCO, Roberta Guimarães. Memórias em trânsito: deslocamentos distópicos em três romances pós-coloniais. São Paulo: Alameda, 2019.FRANCO, Roberta Guimarães. Njinga Mbandi: do silêncio histórico às recriações ficcionais contemporâneas. Matraga. Rio de Janeiro, v. 26, n. 48, p. 688-704, set./dez. 2019. HALL, Stuart. A identidade cultural na pós-modernidade. Tradução: Tomaz Tadeu da Silva, Guaracira Lopes Louro. Rio de Janeiro: DP&A, 2006.HEYWOOD, Linda; THORNTON, John. Prefácio. CASTRO, Xavier de; D’ABZAC, Alix du Cheyron (org.). Njinga - rainha de Angola. A relação de Antonio Cavazzi de Montecuccolo (1687). Tradução: Inês Guerreiro. Lisboa: Escolar Editora, p. 1-19, 2013.HUTCHEON, Linda. Uma teoria da adaptação. Tradução: André Cechinel. Florianópolis: Editora da UFSC, 2013.LE GOFF, Jacques. História e memória. Trad. Bernardo Leitão [et al.]. 7. ed. Campinas: Editora da Unicamp, 2013.NEVES, António Loja. Entrevista “Nós procuramos a utopia”. Expresso, p. 85-87, 17 nov. 1990.NOA, Francisco. Literatura colonial: enquadramento teórico e periodológico. In: Império, mito e miopia: Moçambique como invenção literária. Lisboa: Caminho, p. 39-83, 2002.PASCOAL, Janaína. Entrevista “A cor e o poder na Angola do século XVII”. Revista Veja, 23 de maio de 2012.PEPETELA. Lueji, o nascimento de um Império. Alfragide: Dom Quixote, 2003.PEPETELA. A gloriosa família: o tempo dos flamengos. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1999.PEPETELA. A sul. O sombreiro. Alfragide: Dom Quixote, 2011.PEPETELA. Sua excelência, de corpo presente. Alfragide: Dom Quixote, 2018.POMPA, Cristina. Religião como tradução: missionários, Tupi e Tapuia no Brasil colonial. Bauru: EDUSC, 2003. 

Referências

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Publicado

2022-08-05