Quem constrói o “cânone internacional” das Literaturas Africanas em Português? Tradução, instituições e assimetrias norte/sul
DOI :
https://doi.org/10.35520/mulemba.2020.v12n22a39812Mots-clés :
tradução, instituições, mundialização, literatura-mundo, sistema literário mundialRésumé
Este artigo visa apresentar alguns dados sobre a dimensão e a estrutura da tradução de obras de literatura africana do português para as principais línguas europeias, para depois problematizar estes resultados à luz de algumas ferramentas teóricas: o conceito-chave de literatura-mundo, assim como enquadrado, por um lado, pelo Warwick Research Collective (Combined and Uneven Development) e, por outro, por Pascale Casanova na República Mundial das Letras. Recolhendo também a herança do Cultural Turn dos Estudos de Tradução (André Lefevere e Lawrence Venuti), vemos como a troca literária a partir da África de língua portuguesa segue linhas determinadas por uma reescrita promovida em boa medida por agências baseadas em Portugal. O que nos leva ao discurso das instituições que estabelecem os cânones literários, tal como enquadradas por Stefan Helgesson e Pieter Vermeulen em Institutions of World-Literature e pelo trabalho de Claire Ducournau sobre a instituição das literaturas africanas em francês, do qual este artigo é devedor e que, aplicado ao nosso corpus, questiona o papel relativo de África e de Portugal na consagração e mundialização destas literaturas. As primeiras conclusões apontam para uma visão global das literaturas africanas de língua portuguesa como criação mais do Norte Global – e especialmente do centro lisboeta – do que propriamente africana, na sua institucionalização.
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