A justiça restaurativa como possibilidade de judicialização dos casos de estupro contra mulheres: uma alternativa ao sistema criminal punitivista

Autores/as

  • Sandra Suely Moreira Lurine Guimarães
  • Raissa Figueiredo Atanes Faculdade Faci Wyden. Belém, Pará – Brasil

DOI:

https://doi.org/10.21875/tjc.v5i2.26581

Palabras clave:

Estupro, Justiça Restaurativa, Sistema Criminal, Revitimização

Resumen

RESUMO:

O presente trabalho, por meio de um estudo bibliográfico, tem como objetivo discutir a possibilidade de adotar a Justiça restaurativa nos casos de estupro contra mulheres. Isto porque o modelo tradicional de justiça criminal, declaradamente punitivista, tem como objetivo precípuo a adoção da punição sem considerar minimamente as necessidades das vítimas, que em regra é quase sempre vista como objeto probatório para fins de condenação ou absolvição do agressor. Como o estupro é uma forma de violência que deixa consequências indeléveis na vítima, e considerando o número elevado de casos de estupro contra mulheres no Brasil, há a necessidade de uma reflexão sobre a inadequação do sistema criminal punitivista e retributivo na judicialização dessa prática criminosa. Dentre outras coisas, o sistema criminal tende a reproduzir os estereótipos de gênero presentes no senso comum social, cuja consequência é a revitimização da mulher, ao culpabilizá-la pela violência da qual foi vítima. Por essa razão, é pertinente analisar se o modelo restaurativo, cujo cerne é a reparação e, portanto, prioriza as necessidades da vítima sem descurar do agressor, mostra-se uma alternativa adequada à abordagem do estupro.

Biografía del autor/a

Sandra Suely Moreira Lurine Guimarães

Professora do curso de direito da faculdade Faci Wyden de Belém do Pará

Raissa Figueiredo Atanes, Faculdade Faci Wyden. Belém, Pará – Brasil

Graduanda em direito pela faculdade Faci Wyden. Belém, Pará – Brasil

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Publicado

2020-11-18

Número

Sección

Seção Especial