Diacronia de processos de construção de textos em cartas de leitor paulistas

Autores

DOI:

https://doi.org/10.31513/linguistica.2024.v20n1a62794

Resumo

Este artigo insere-se no quadro teórico-metodológico da abordagem diacrônica de processos de construção textual formulada no interior do Projeto para a História do Português Brasileiro, uma abordagem que aplica princípios da Perspectiva Textual-Interativa ao estudo diacrônico do texto. O trabalho tem os seguintes objetivos: descrever como os processos de organização tópica, parentetização e repetição se desenvolvem diacronicamente em cartas de leitor paulistas e formular a hipótese de que a diacronia desses processos estaria ligada a uma alteração na finalidade sociocomunicativa e a uma alteração no estilo das cartas. O material de análise é composto por cartas de jornais paulistas publicadas nos séculos XIX e XX. Os resultados destacam as seguintes mudanças no uso desses processos: expressiva queda do percentual de emprego da unidade tópica de interpelação, pela qual o escrevente dirige um pedido a um destinatário; drástica diminuição da incidência de parênteses com foco no interlocutor; forte redução de repetições com foco na interatividade. Conforme se argumenta no artigo, os dados sugerem que, historicamente, as missivas passariam da finalidade de discutir um tema como sustentação de uma solicitação para a finalidade de discutir um tema como expressão de opinião e migrariam de um estilo textualmente mais interativo para um estilo menos interativo. Essas duas alterações estariam entre as motivações das mudanças nos processos textuais analisados. Ao correlacionar a diacronia desses processos com alterações na finalidade sociocomunicativa e no grau de interatividade das cartas, o artigo procura, em última instância, evidenciar a relação intrínseca que existe entre linguagem e intersubjetividade.

Biografia do Autor

Eduardo Penhavel, Universidade Estadual Paulista (UNESP)

Possui graduação em Licenciatura em Letras (com habilitação em português e francês) pela Universidade Estadual Paulista (UNESP). Por essa universidade, obteve também o título de mestre em Estudos Linguísticos, desenvolvendo sua dissertação especificamente na área de Gramática Funcional. É doutor em Linguística pela Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP), com tese defendida na área de Linguística Textual, tendo desenvolvido parte da pesquisa de doutorado na Universidade de Boston, EUA. Atualmente, é professor da UNESP, campus de São José do Rio Preto, onde trabalha nos cursos de Licenciatura em Letras e Bacharelado em Tradução e nos cursos de Mestrado e Doutorado em Estudos Linguísticos. Tem experiência na área de Linguística, com ênfase em Linguística Textual e Gramática Funcional, atuando principalmente nos seguintes temas: organização tópica, marcadores discursivos, diacronia de processos de construção textual, Gramática Textual-Interativa e atos discursivos interativos.

Alessandra Regina Guerra, Universidade Estadual Paulista (UNESP)

Possui graduação em Licenciatura em Letras (português/italiano) e mestrado e doutorado em Estudos Linguísticos pela Universidade Estadual Paulista (UNESP). Sua formação e atuação em Linguística focalizam o campo da análise funcional de língua falada e escrita, abrangendo o estudo de fenômenos gramaticais e textuais, tanto em perspectiva sincrônica, quanto diacrônica. Sua dissertação de mestrado situa-se na interface entre Gramática Funcional e Linguística Textual, tratando do funcionamento de marcadores discursivos e do processo de organização tópica. Sua tese de doutorado promove uma articulação entre a Gramática Discursivo-Funcional e a Linguística Histórica, ao descrever diacronicamente a propriedade da transparência linguística no português, analisando sua manifestação no processo de expressão do sujeito gramatical. Tem experiência na área de Linguística, atuando principalmente nos seguintes temas: organização tópica, marcadores discursivos, descrição funcional do português, sujeito gramatical, variação e mudança linguística. É membro do Núcleo de Pesquisas em Sociolinguística de Araraquara, grupo de pesquisa sediado na UNESP, campus de Araraquara.

Joceli Catarina Stassi-Sé, Universidade Federal de São Carlos (UFSCar)

É licenciada em Letras Português e Inglês pela Universidade Estadual Paulista - IBILCE/UNESP (2000) e é Mestre em Estudos Linguísticos pela mesma universidade (2003). Obteve o título de Doutora em Estudos Linguísticos pelo IBILCE/UNESP (2012). Cursou doutorado sanduíche na Universiteit van Amsterdam (Amsterdam, Holanda), nas áreas de Teoria e Análise Linguística e Aquisição de Segunda Língua. Atualmente é professora adjunta na Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), lotada no Departamento de Metodologia de Ensino (DME), onde atua na graduação, nas disciplinas de Didática Geral e de Estágio Supervisionado e orientação para a prática profissional em Língua Inglesa 1 e 2 e no PIBID/UFSCar, como coordenadora de núcleo em subprojeto. Atua na pós-graduação como professora colaboradora no Programa de Pós Graduação em Linguística PPGL/UFSCar, na linha de pesquisa "Descrição, análise e processamento automático de línguas naturais". Tem interesse na área de Linguística e Educação, com ênfase em Teoria e Análise Linguística e Linguística Aplicada e em Formação Inicial, atuando nos seguintes temas: gramática discursivo-funcional, perspectiva textual-interativa, aquisição de segunda língua, ensino e aprendizagem de língua estrangeira e de língua materna, e estágio obrigatório supervisionado.

Michel Gustavo Fontes, Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS)

É graduado em Letras (Licenciatura, com habilitação em Português e Espanhol), Mestre e Doutor em Estudos Linguísticos pela Universidade Estadual Paulista (UNESP), câmpus de São José do Rio Preto. É Professor Adjunto da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS), câmpus de Três Lagoas (CPTL), onde atua, na graduação, junto às disciplinas da área de língua espanhola e, na pós-graduação, junto à linha de pesquisa de Análise e Descrição de Línguas. Tem experiência na área de Teoria e Análise Linguística, especialmente na linha de descrição funcional de línguas, trabalhando, particularmente, com o funcionalismo de linha holandesa (Gramática Discursivo-Funcional) e com temas como: distinção léxico/gramática, mudança linguística, ordenação de constituintes e articulação de orações. Membro do Grupo de Estudos Sociofuncionalistas (UFMS).

Solange de Carvalho Fortilli, Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS)

Graduada em Letras (Português-Francês) pela Universidade Estadual Paulista, Mestre e Doutora em Estudos Linguísticos pela mesma Instituição. É professora adjunta do câmpus de Três Lagoas da Universidade Federal do Mato Grosso do Sul, onde atua no ensino de graduação nas áreas de Morfologia e Sintaxe da Língua Portuguesa. Em nível de pós-graduação, compõe o quadro docente do Mestrado Profissional em Letras (PROFLETRAS) e é responsável por disciplinas referentes à análise gramatical do português e à variação linguística e pela orientação de dissertações a elas relacionadas. Integrante também do Programa de Pós-Graduação em Letras e do Grupo de Estudos Sociofuncionalistas (GESF), desenvolve, sobretudo, os temas mudança linguística, gramaticalização, mudança construcional e subjetivização.

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Publicado

2024-04-21