Verbos de percepção em português brasileiro: uma análise semântica unificada para os diferentes complementos

Autores

DOI:

https://doi.org/10.31513/linguistica.2024.v20n3a65547

Resumo

Verbos de percepção licenciam: orações introduzidas por ‘que’; orações reduzidas de infinitivo e sintagmas nominais/determinantes – como complemento. No entanto, o comportamento semântico não é o mesmo, pois orações introduzidas por ‘que’ possuem pelo menos duas leituras: uma direta e outra indireta. O objetivo deste artigo é apresentar uma proposta semântica unificada para verbos de percepção que explique por que certas leituras ficam disponíveis apenas para as orações subordinadas introduzidas pelo complementizador. Para isso, empregamos como arcabouço teórico propostas de análise de orações subordinadas na Semântica Formal. Propomos que o complementizador ‘que’ denota uma eventualidade, mas é vago em relação ao momento que essa eventualidade ocorreu. Tal vagueza é responsável por permitir duas leituras: uma direta, na qual o evento descrito pela oração subordinada equivale à eventualidade observada pelo verbo de percepção; e uma indireta, na qual o evento descrito pela oração subordinada é anterior a essa eventualidade. Para nossa proposta, recorremos ao arcabouço teórico da Semântica Temporal. Dessa forma, é a natureza semântica do complementizador que deixa em aberto se a leitura é direta, ou seja, com a eventualidade e o evento da oração subordinada ocorrendo concomitantemente, ou se a leitura é indireta, com a eventualidade e o evento ocorrendo em tempos distintos. O contexto terá o papel de restringir essa vagueza. Sentenças com orações infinitivas ou com sintagmas nominais/determinantes apresentam apenas a leitura direta justamente porque não há o complementizador. Defendemos também que as três possibilidades de complemento para os verbos de percepção possuem o mesmo tipo semântico, o que permite uma semântica unificada para o verbo nas três estruturas.
Palavras-chave: Verbos de percepção. Subordinação. Semântica Formal. Ambiguidade. Vagueza.

Biografia do Autor

Fernanda Rosa Silva, Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG)

Possui mestrado em Linguística pela Universidade de São Paulo (2012) e doutorado em Linguística pela mesma Universidade (2017). É graduada em Letras (Licenciatura em Português / Inglês) pelo Centro Universitário Fundação Santo André (2004). Realizou estágio de pós-doutorado pelo programa PNPD / CAPES, na Universidade Federal Fluminense (2017-2019) e no Departamento de Linguística da USP, com apoio do CNPQ (2019-2020). Atualmente é Professora Adjunta na Universidade Federal de Minas Gerais, Faculdade de Letras (FALE). Ministra aulas nas áreas de semântica e pragmática na graduação e na pós-graduação desta faculdade. Também atua no Curso de Especialização em Gramática da Língua Portuguesa: Reflexão e Ensino, da pós-graduação. Ainda, coordena o curso de extensão sobre formação de professores e ensino de semântica na educação básica. Também atua como coordenadora do Grupo de Estudos em Semântica e Pragmática da UFMG e como vice-coordenadora da Comissão de Semântica e Pragmática da ABRALIN. Tem experiência na área de Linguística, com ênfase em Semântica e Pragmática Formais, atuando principalmente nos seguintes temas: estrutura informacional, foco / tópico, exaustividade, contraste e implicaturas conversacionais. Além disso, tem se interessado em pesquisas que relacionem as teorias linguísticas ao ensino da Língua Portuguesa.

Luiz Fernando Ferreira, Universidade Federal de Roraima (UFRR)

Sou professor de Linguística e Língua Portuguesa dos cursos de Letras da Universidade Federal de Roraima (UFRR). Possuo bacharelado em Linguística e Português e licenciatura em Português pela Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo. Durante a graduação, fiz uma iniciação científica para estudar a língua indígena Karitiana. A princípio, essa iniciação foi sem bolsa e depois consegui uma bolsa FAPESP. Fiz uma segunda Iniciação para estudar essa mesma língua com bolsa CNPq. Logo após me graduar em 2015, entrei para o mestrado em Linguística no Departamento de Linguística da FFLCH/USP. Continuei estudando a semântica do Karitiana e também entrei em projetos de curso de extensão que estabeleciam um diálogo entre linguística e educação. Durante o mestrado, tive bolsa CAPES e defendi em 2017 entrando no doutorado logo em seguida. Terminei meu doutorado em 2022 com bolsa CNPq no Departamento de Linguística da USP. Entre 2019 e 2020, fiz o doutorado sanduíche na MIT com bolsa CAPES. Os principais campos que atuei na minha carreira são a Sintaxe, Semântica, Pragmática e o estudo de Línguas Indígenas. Durante esses 10 anos que trabalho com pesquisa linguística, trabalhei os seguintes temas: Modo, Modalidade, Tempo, Aspecto, Contrafactualidade, Coesão, Coerência, Metáforas, Sintagma nominal, Subordinação, Construções de discurso indireto e Metodologias Ativas voltadas para o ensino de português.

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Publicado

2024-12-28

Edição

Seção

Dossiê: XIV Workshop on Formal Linguistics