Vol. 17 Núm. 33 (2023): Filosofía Clásica Chinesa I

Pagode à beira do rio, que reflete o azul do céu

O panorama planetário contemporâneo, apesar das flutuações na dinâmica internacional, inclina-se predominantemente para a globalização. No entanto, a suposição de que essa trajetória possa ser encapsulada em um modelo singular é controversa. O ambiente atual revela várias partes interessadas competindo para moldar as estruturas regionais e globais de interação. A reflexão sobre diretrizes para essas interações é fundamental, pois sua ausência pode resultar em discórdia, colocando em risco conquistas coletivas da humanidade. Os recentes acontecimentos políticos destacam de forma inequívoca as diferenças gritantes que surgem quando indivíduos ou grupos, baseados em valores fundamentais distintos, navegam pelos mesmos cenários. Se essas disparidades não forem reconhecidas, elas podem inviabilizar os esforços estratégicos, ressaltando o imperativo de promover uma compreensão diferenciada dos valores humanos compartilhados juntamente com as divergências culturais. A paz e as vidas exigem a identificação de uma base aceitável compartilhada e, ao mesmo tempo, o reconhecimento das nuances que podem surgir como pontos de discórdia.
O recente aumento do desenvolvimento tecnológico, das comunicações e da mobilidade internacional alavanca as conquistas da ciência ocidental. Isso gerou a noção de que a visão de mundo humana deve ser globalizada de acordo com esses mesmos padrões. No entanto, esse paradigma negligencia a natureza histórica do desenvolvimento humano, que se desenvolve ao longo de dezenas de milhares de anos em vez de séculos. Cada visão de mundo resulta de adaptações a ambientes naturais e sociais específicos, incorporando inerentemente características únicas e irrevogáveis que não podem ser modificadas voluntariamente por simples acordo. O desenvolvimento contínuo das sociedades produziu sistemas de ideias sobre o mundo, métodos de aquisição de conhecimento, modos de interação com o ambiente e, o que é mais importante, visões compartilhadas do futuro. Na cultura ocidental, esses elementos são conceituados no campo da “filosofia”. A partir deste ponto de vista, a tarefa vital para moldar o futuro compartilhado da humanidade é compreender as diversas filosofias, identificar pontos em comum e apreciar suas diferenças essenciais. Somente por meio desse processo poderemos aspirar a um desenvolvimento social sustentável, preservar nossos recursos finitos e criar um mundo melhor para as gerações futuras.
Esta edição especial busca apresentar filosofias de diferentes regiões. Não tem como objetivo oferecer um sistema pré-construído de crenças e pensamentos, pois isso contradiz a própria ideia de diálogo entre civilizações. Em vez disso, ela mostra várias perspectivas sobre o mundo compartilhado e propõe arcabouços filosóficos distintos. Durante a compilação deste trabalho, ficou evidente que muitas contribuições compartilham uma ideia unificadora que conceituamos como “Pensar dentro da natureza”. Esse conceito envolve uma consideração consciente pelo mundo que todos os seres humanos habitam. Entretanto, não se trata de um desejo ingênuo de permanecer em um estado imutável, o que é uma ilusão. Em vez disso, implica o reconhecimento do papel orientador do mundo, a aceitação de suas mudanças e a afirmação dos papéis criativos da humanidade e dos indivíduos. Somente reconhecendo nossa responsabilidade pelo passado, presente e futuro é que poderemos percorrer coletivamente um caminho compartilhado do desenvolvimento sustentável.
Também devemos reconhecer as limitações desse esforço. Qualquer tentativa de apresentar partes iguais de filosofias com base em princípios geográficos, teóricos ou outros refletiria apenas nossos próprios preconceitos, entendimentos atuais e conhecimento disponível. As contribuições do primeiro número deste volume estão fundamentadas na filosofia clássica chinesa, que historicamente enfatiza o pensamento dentro da natureza. Esperamos que esse enfoque inspire representantes de outras tradições a afirmarem suas formas únicas de pensamento, oferecendo as melhores contribuições filosóficas para a ideia de uma humanidade compartilhada.

 

Editor dos Anais de Filosofia Clássica: Fernando Santoro, UFRJ, Brasil
Co-Editores das edições especiais “Filosofia Clássica Chinesa” e "Filosofias Clássicas Não-Ocidentais“ :
Caroline Pires Ting, UFRJ, Brasil; Verônica A. Costa UFRJ, Brasil; Ilya A. Kanaev, Sun Yat-sen University, China.

Publicado: 2024-11-30

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