PARA CONSERTAR O MUNDO: A ESCRITA POÉTICA D’O DICIONÁRIO DO MENINO ANDERSEN, DE GONÇALO M. TAVARES
DOI:
https://doi.org/10.35520/diadorim.2022.v24n2a49884Keywords:
Psicopolítica, Convencionalidade, Infância, Significação, MundoAbstract
Gonçalo M. Tavares tem colaborado para a criação de uma escrita que desafia os níveis de classificação tradicionais. Embora no Brasil os estudos sobre este autor ainda sejam poucos, pela própria dificuldade de organização das temáticas de sua obra – à exceção da publicação Gonçalo M. Tavares: Ensaios, aproximações, entrevistas (2018) -, um dos caminhos para iniciar a sua compreensão consiste em examinar os percursos dos aspectos poéticos que constituem o seu mundo. Tendo como base esta constatação, o presente artigo busca tecer comentários acerca de sua escrita poética n’O dicionário do menino Andersen (2015), graças à possibilidade de observar, nele, a espontaneidade e agudeza de um eu-lírico infantil, Andersen, que elabora poemas a fim de subverter a lógica da palavra-produto do cotidiano das mesmices. Para provar esta reflexão, apoio-me em três principais eixos argumentativos: (1) as considerações psicopolíticas de Byung-Chul Han em A Sociedade do Cansaço (2017) para a caracterização do mundo neoliberal contemporâneo; (2) os escritos de Walter Benjamin em Reflexões sobre a infância, o brinquedo e a educação (2009) para tratar da cultura da infância; (3) finalmente, nas vozes de Sophia de M. B Andresen em Artes Poéticas, compiladas em sua Obra Poética (2018), e no legado de Alfredo Bosi em O Ser e o Tempo da Poesia (1977), para lidar com o evento poético. Concluo que o deslocamento de significantes e significados, bem como o alargamento das margens de significação do signo linguístico, promovidos pelo infante Andersen, e imprevisíveis a um dicionário convencional, constituem uma força da criança-poeta ou do poeta-criança Gonçalo para consertar o mundo dos dias que passam sem trégua e descanso, nos quais a escrita da poesia encena seu compromisso com a dignidade humana.
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