DEIXO TODAS AS CAPITANIAS DE PAZ, MUITAS DELAS CONQUISTEI POR GUERRA: HISTÓRIA DO RIO DE JANEIRO EM UM MANUSCRITO DE MEM DE SÁ
DOI:
https://doi.org/10.35520/diadorim.2021.v23n2a40849Palabras clave:
Mem de Sá, Baía de Guanabara, historiografia, Morro do CasteloResumen
A partir da transcrição e análise de um autógrafo de Mem de Sá, datado do ano de 1570 e atualmente sob a guarda da Biblioteca Joanina, o artigo se interessa em tratar da narrativa do lusitano sobre o Brasil daquele período e mais especialmente sobre o Rio de Janeiro. Considerado, até agora, como o único manuscrito de Sá de que se tem notícia, o texto pode ser dividido em duas temáticas principais. A primeira está situada na linha do combate: Sá comenta sobre os conflitos com os povos nativos de regiões do Nordeste e os sucessivos confrontos com os franceses alojados na Baía de Guanabara. Um segundo grupo temático presente no autógrafo trata da implementação de um quadro municipal no Morro do Castelo, à época chamado Morro do Descanso, como uma espécie de certidão de nascimento da cidade do Rio de Janeiro. Interessa-nos observar como, discursivamente, são descritos o encontro e os arranjos entre os europeus e os tupinambás, e como estão presentes, na formação carioca, a pacificação ao lado da batalha, a igreja ao lado do castigo, a prisão ao lado da casa dos padres. O documento de Sá, lido atualmente, permite perceber o que disso permaneceu, desapareceu ou se diluiu, seja do ponto de vista da memória cultural quanto da geografia, de que podem ser exemplos o Morro supracitado, a Ilha de Villegagnon (antiga Ilha Serigipe e atual Escola Naval) e os logradouros que homenageiam Sá e sua família, como Avenida Mem de Sá, Avenida Salvador de Sá e o bairro do Estácio, berço do samba. O artigo se vale de mapas e de fotografias a fim de materializar tal presença, ao mesmo tempo em ausência e em camadas.
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