Léxico e identidades culturais: análise da toponímia indígena de natureza antropocultural no sertão de Quixeramobim
DOI :
https://doi.org/10.35520/diadorim.2020.v22n2a33548Mots-clés :
Léxico, Toponímias indígenas, cultura, natureza antropocultural, Sertão de Quixeramobim.Résumé
Nomear é uma das primeiras atitudes humanas diante do mundo que nos cerca, tendo em vista que a linguagem atravessa a própria existência humana. Por meio da língua também organizamos nossa maneira de estar no mundo e de atuar sobre ele, o que nos faz pensar a língua como um componente da cultura, se esta é entendida de forma abrangente como sendo “todo um modo de vida” (WILLIAMS, 2015, p. 10). Por meio da língua podemos também compreender as práticas culturais e históricas de nossos antecessores, uma vez que práticas linguísticas que foram usuais em tempos que nos precederam também permeiam as relações sociais do presente, muitas modificadas em suas formas e sentidos, mas que nos ajudam a compreender as formas de organizações comunitárias do passado, como é o caso do objeto de estudo desta pesquisa – as toponímias. O campo de estudos toponímicos no Brasil se destacou a partir das pesquisas de Levy Cardoso (1961), ao estudar aspectos das formas de nomeações dos lugares, e seguiu seu desenvolvimento por meio dos estudos de pesquisadores como Drumond (1965) e Dick (1980) até o presente momento, em que estudiosos do país têm empreendido esforços na construção do projeto de Atlas Toponímico do Brasil (ATB). Nesse sentido, o presente trabalho objetiva analisar as toponímias indígenas da microrregião cearense do Sertão de Quixeramobim que são classificadas, de acordo com as balizas teórico-metodológicas de Dick (1990), como sendo de natureza antropocultural, ou seja, nomes de lugares que têm sua motivação denominativa relacionada a fatores culturais dos povos indígenas. Dessa forma, o corpus deste trabalho é composto de 03 topônimos da região supracitada. É importante ressaltar que nos atemos à motivação semântica desses topônimos, tecendo considerações acerca da relação entre o léxico toponímico e identidade cultural. Para isso, também utilizamos como aporte teórico Biderman (1998), Hall (2006) e Woodward (2014).
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