HANS STADEN, O OUTRO DO OUTRO
DOI:
https://doi.org/10.35520/diadorim.2021.v23n2a40839Parole chiave:
narrativas de viagem, imagens do selvagem, antropofagia.Abstract
Baseado na relevância das narrativas de viajantes europeus do século XVI para os estudos históricos de literatura brasileira, o presente artigo se ocupa da problemática do peculiar encontro entre Hans Staden, o mercenário alemão que guardava a entrada da Baía de São Vicente e seus eventuais captores, os índios Tupinambás. Assinalando preliminarmente a pregnância, em constructos literários brasileiros dos séculos XIX e XX, do “Outro” antropófago, tal conformado no testemunho do aventureiro, o trabalho se propõe a entender as razões da recorrência de tal imagem. À luz de uma proposição de Michel de Certeau, a propósito da função da pessoa de quem se fala em certa cultura - mas que nela não tem voz -, bem como da inaudita percepção si-mesmo, que, consoante Tzvetan Todorov, alcança-se quando se encontra o Outro, procede-se uma reflexão acerca do diálogo de Staden com esse Outro, e da compreensão que alcança de sua diversa realidade. Empregando o método denominado por Todorov de “tipologia das relações com outrém”, realiza-se então uma análise epistemológica, que coteja as figuras do narrador com a do narrado, em tal texto. Conclui-se este artigo, demonstrando-se que Duas Viagens ao Brasil expõe, por um lado, o alto grau de conhecimento do Outro alcançado pelo homem de armas alemão, e por outro, sua total inépcia para traduzir a cultura Tupinambá em termos da europeia, e vice-e-versa, não obstante se instaurar como estudo etnográfico fundador.
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