“Não me aquenta, nem me arrefenta”: considerações a propósito da origem e evolução dos verbos terminados em -entar em português

Autores

DOI:

https://doi.org/10.24206/lh.v6i1.29260

Palavras-chave:

Formação de palavras. Morfologia. Derivação. Sufixo. Diacronia.

Resumo

Os verbos terminados em -entar, como amolentar, apodrentar, avelhentar, endurentar, enfraquentar, adormentar, acrescentar ou afugentar, têm suscitado, ao longo dos anos, análises diversas no que diz respeito à sua morfologia e/ou ao seu modo de construção. Este subconjunto de verbos derivados é especialmente interessante pois não apenas nos fornece pistas sobre o processo de geração e de desaparecimento dos afixos, como também permite analisar como se desenrola o fenómeno de competição afixal (cf. amolentar vs. amolecer; apodrentar vs. apodrecer).

Neste artigo, para além de apresentarmos as questões fundamentais que a descrição destes verbos suscita em termos lexicogenéticos, analisaremos o percurso diacrónico do constituinte derivacional -entar desde os primórdios da nossa língua, avaliando os efeitos do fenómeno de competição mantido com outros processos verbalizadores, especialmente com aqueles que envolvem o elemento sufixal -ecer.

Biografia do Autor

Rui Abel Rodrigues Pereira, Universidade de Coimbra

Professor Auxiliar do Departamento de Línguas, Literaturas e Culturas da Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra.

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Publicado

2020-03-24

Edição

Seção

Artigos - Dossiê Temático