Análise sociolinguística em tempo real de curta duração da variação na concordância verbal junta à 3ª pessoa do plural no português afro-brasileiro de Helvécia
DOI:
https://doi.org/10.24206/lh.v11i2.66160Palavras-chave:
Concordância verbal, Mudança linguística, Tempo real de curta duração, Polarização sociolinguística do Brasil, Contato entre línguasResumo
Este artigo apresenta os resultados de uma análise em tempo real de curta duração da mudança nos padrões de concordância verbal junto à 3ª pessoa do plural na comunidade afro-brasileira de Helvécia, situada no extremo sul do Estado da Bahia, com o enquadramento teórico-metodológico da Sociolinguística Variacionista. A variação no uso da regra de concordância verbal é um tema central na caracterização da polarização sociolinguística do Brasil e no debate sobre a formação histórica das variedades da língua portuguesa faladas no país. Os resultados empíricos aqui apresentados, que indicam uma mudança em curso no sentido da implementação do uso da regra de concordância na comunidade analisada, ratificam o quadro de polarização sociolinguística do Brasil e corroboram a hipótese de que a maciça variação que se observa hoje na fala popular brasileira tem origem na aquisição defectiva do português como segunda língua por africanos escravizados e indígenas subjugados e na nativização desse modelo defectivo de segunda língua entre os seus descendentes.
Downloads
Referências
ALVAREZ-LOPEZ, Laura; GONÇALVES, Perpétua; AVELAR, Juanito (Org.). The Portuguese Language Continuum in Africa and Brazil. Amsterdam: John Benjamins, 2018.
ARAÚJO, Silvana Silva de Farias. A concordância verbal no português falado em Feira de Santana-Ba: sociolinguística e sócio-história do português brasileiro. 2014. Tese (Doutorado em Língua e Cultura) – Universidade Federal da Bahia.
AVELAR, Juanito. Expressões possessivo-existenciais de tempo decorrente na fala dos quilombolas de Moquém. Stockholm Review of Latin American Studies, v. 8, p. 65-82, 2012.
BARROS, Isis; FIGUEIREDO, Maria Cristina. O (não) uso das preposições dativas e a relexificação de para no português afro-brasileiro. Estudos Linguísticos e Literários, p. 453-483, 2020.
BAXTER, Alan; LUCCHESI, Dante. A relevância dos processos de pidginização e crioulização na formação da língua portuguesa no Brasil. Estudos Linguísticos e Literários, Salvador, n.19, p.65-83, 1997.
BORTONI-RICARDO, Stella Maris. A concordância verbal em português: um estudo de sua significação social. In: VOTRE, Sebastião; RONCARATI, Cláudia (orgs.). Anthony Julius Naro e a Linguística no Brasil: uma homenagem acadêmica. Rio de Janeiro: 7Letras, 2008. p. 362-380.
CHAMBERS, Jack. Sociolinguistic theory: linguistic variation and its social significance. Oxford/Cambridge: Blackwell, 1995.
ELIA, Sílvio. A unidade linguística do Brasil. Rio de Janeiro: Padrão, 1979.
FERREIRA, Carlota. Remanescentes de um falar crioulo brasileiro. In: FERREIRA, Carlota et al. Diversidade do português do Brasil. Salvador: EDUFBA, 1984. p.21-32.
GRANDA, Ana Sartori. A concordância verbal no português europeu rural. In. OLIVEIRA, Klebson; CUNHA E SOUZA, Hirão; GOMES, Luíz (orgs.). Novos tons de rosa. Salvador: EDUFBA, 2009. p. 142-161.
GUY, Gregory R. Linguistic variation in Brazilian Portuguese: aspects of phonology, sintax and language history. 1981. Tese (Doutorado em Linguística) - University of Pennsylvania, Pennsylvania.
GUY, Gregory; ZILLES, Ana. Sociolinguística quantitativa: instrumental de análise. São Paulo: Parábola Editorial, 2007.
LABOV, William. What can be learned about change in progress from synchrony descriptions. In: SANKOFF, David; CEDERGREN, Henrietta (Ed.). Variation Omnibus. Carbondale; Edmonton: Linguistic Research, 1981. p.177-199.
LABOV, William. Principles of linguistic change. Oxford; Cambridge: Blackwell, 1994.
LABOV, William. Principles of linguistic change: social factors. Cambridge: Blackwell, 2001.
LABOV, William. Padrões Sociolinguísticos. São Paulo: Parábola, 2008 [1972].
LUCCHESI, Dante; BAXTER, Alan; RIBEIRO, Ilza. org. 2009. O português afro-brasileiro. Salvador, EDUFBA.
LUCCHESI, Dante; BAXTER, Alan. A transmissão linguística irregular. In: LUCCHESI, Dante; BAXTER, Alan; RIBEIRO, Ilza. (Orgs.). O português afro-brasileiro. Salvador: EDUFBA, 2009, p. 101-124.
LUCCHESI, Dante; BAXTER, Alan; SILVA, Jorge Augusto Alves da. A concordância verbal. In: LUCCHESI, Dante; BAXTER, Alan; RIBEIRO, Ilza (Orgs.). O português afro-brasileiro. Salvador: EDUFBA, 2009. p. 331-371.
LUCCHESI, Dante. O conceito de transmissão linguística irregular e o processo de formação do português do Brasil. In: RONCARATI, C.; ABRAÇADO, J. (Org.). Português brasileiro: contato linguístico, heterogeneidade e história. Rio de Janeiro: 7Letras, 2003. p.272-284.
LUCCHESI, Dante. História do contato entre línguas no Brasil. In: LUCCHESI; Dante; BAXTER, Alan; RIBEIRO, Ilza (orgs.). O Português Afro-Brasileiro. Salvador: Edufba, 2009. p. 41-73.
LUCCHESI, Dante. Racismo linguístico ou ensino democrático e pluralista? Grial – Revista Galega de Cultura, Vigo, Espanha, 2011a, n. 190, tomo XLIX, p. 86-95.
LUCCHESI, Dante. Ciência ou dogma? O caso do livro do MEC e o ensino de língua portuguesa no Brasil. Revista Letras, Curitiba. jan./jun. 2011b, n. 83, p. 163-187.
LUCCHESI, Dante. A deriva secular na formação do português brasileiro: uma visão crítica. In: LOBO, Tânia; CARNEIRO, Zenaide; SOLEDADE, Juliana; ALMEIDA, Ariadne; RIBEIRO, Silvana (orgs.). Rosae: linguística histórica, história das línguas e outras histórias. Salvador: EDUFBA. 2012, p. 249-274.
LUCCHESI, Dante. Língua e Sociedade Partidas: A Polarização Sociolinguística do Brasil. São Paulo: Contexto, 2015a.
LUCCHESI, Dante. A variação na concordância verbal no português popular da cidade de Salvador. Estudos Linguísticos e Literários, Salvador, n. 52, 2015b.
LUCCHESI, Dante. Por que a crioulização aconteceu no Caribe e não aconteceu no Brasil?
Condicionamentos sócio-históricos. Gragoatá, Niterói, v. 24, n. 48, p. 227-255, jan.-abr. 2019a.
LUCCHESI, Dante. Sociolinguistic History of Brazil. In: REI-DOVAL, Gabriel; TEJEDO- HERRERO, Fernando. Lusophone, Galician, and Hispanic Linguistics. New York: Routledge, 2019b. p. 38-54.
LUCCHESI, Dante; BAXTER, Alan. The history of linguistic contact underlying Brazilian Portuguese. In: KABATEK, Johannes; WALL, Albert (Eds.). Manual of Brazilian Portuguese Linguistics. Berlin/Boston: De Gruyter, 2022. pp. 85-112.
MENDONÇA, Renato. A influência africana no português do Brasil. Rio de Janeiro: Sauer, 1933.
MOTA. María Antónia; VIEIRA. Silvia R. A concordância nominal e verbal: contribuições para o debate sobre o estatuto da variação em três variedades urbanas do português. Cuadernos de la ALFAL, 2012.
NARO, Anthony; SCHERRE, Marta. Sobre as origens do português popular do Brasil. DELTA, São Paulo, v.9, p.437-454, 1993. Número especial.
NARO, Anthony Julius; SCHERRE, Maria Marta Pereira. Origens do português brasileiro. São Paulo: Parábola Editorial, 2007.
NARO, Anthony Julius. O dinamismo das línguas. In: MOLLICA, Maria Cecilia; BRAGA,
NINA, Terezinha. Concordância nominal/verbal do analfabeto na Micro-Região Bragantina. 1980. Dissertação (Mestrado em Letras) - Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, Porto Alegre.
PETTER, Margarida; ZANONI, Dafne. Quilombos do Vale do Ribeira: variação e mudança na concordância de gênero e de número. Papia (Brasília), v. 15, p. 61-71, 2005.
PETTER, Margarida. Aspectos morfossintáticos comuns ao português angolano, brasileiro e moçambicano. Papia (Brasília), v. 1, p. 201-220, 2009.
RAIMUNDO, Jacques. O elemento afro-negro na língua portuguesa. Rio de Janeiro: Renascença, 1933.
RIBEIRO, João. Diccionario grammatical. Rio de Janeiro: Francisco Alves, 1889.
SANKOFF, David; TAGLIAMONTE, Sali; SMITH, Eric. Goldvarb X: a variable rule application for Macintosh and Windows. Department of Linguistics, University of Toronto, 2005.
SANTANA, José Humberto; ARAÚJO, Silvana de Farias; FREITAG, Raquel Meister Ko. Documentação do português falado em comunidades rurais afro-brasileiras de Sergipe: procedimentos metodológicos. Papia, v. 28, p. 219-237, 2018.
SANTOS, W.R. A concordância verbal de terceira pessoa do plural no português afro-brasileiro: uma análise sociolinguística em tempo real de curta duração na comunidade quilombola de Helvécia-Ba. Tese de doutorado. Universidade Federal Fluminense. Niterói, 2024.
SIEGEL, Jeff. The emergence of pidgin and creole languages. Cambridge: Oxford University Press, 2008.
TARALLO, Fernando. Sobre a alegada origem crioula do português brasileiro: mudanças sintáticas aleatórias. In: KATO, Mary A.; ROBERTS, Ian (Org.). Português brasileiro: uma viagem diacrônica. Campinas: Editora da Unicamp, 1993. p.35-68.
TEXEIRA, Eliana Pitombo; ARAÚJO, Silvana S. de Farias (Org.). Diálogos entre Brasil e Angola: o português d'aquém e d'além-mar. Feira de Santana: UEFS Editora, 2017.
TRUDGILL, Peter. Contact and simplification: Historical baggage and directionality in linguistic change. Linguistic Typology, v. 5, n. 2-3, p. 371-374, 2001.
SILVA NETO, Serafim da. Introdução ao estudo da língua portuguesa no Brasil. 2.ed. Rio de Janeiro: INL, 1963 [1951].
SILVA NETO, Serafim da. História da língua portuguesa. 5. Ed. Rio de Janeiro: Presença, 1988.
VIEIRA, Sílvia. Concordância verbal: variação em dialetos populares do Norte Fluminense. 1995. Dissertação (Mestrado em Língua Portuguesa) – Universidade Federal do Rio de Janeiro.
VIEIRA, Silvia Rodrigues; BAZENGA, Aline. Patterns of third person plural verbal agreement. Journal of Portuguese Linguistics, v. 12, n. 2, p. 7-50, 2013.
WEINREICH, Uriel; LABOV, William; HERZOG, Marvin. Fundamentos empíricos para uma teoria da mudança linguística. São Paulo: Parábola, 2006 [1968].
Downloads
Publicado
Edição
Seção
Licença
Copyright (c) 2025 Dante Lucchesi, Welton Rodrigues Santos

Este trabalho está licenciado sob uma licença Creative Commons Attribution-NonCommercial 4.0 International License.
Os autores que publicam nesta revista concordam com o seguinte:
a. Os autores detêm os direitos autorais dos artigos publicados; os autores são os únicos responsáveis pelo conteúdo dos trabalhos publicados; o trabalho publicado está licenciado sob uma Licença Creative Commons Atribuição-NãoComercial 4.0 Internacional, que permite o compartilhamento da publicação desde que haja o reconhecimento de autoria e da publicação pela Revista LaborHistórico.
b. Em caso de uma segunda publicação, é obrigatório reconhecer a primeira publicação da Revista LaborHistórico.
c. Os autores podem publicar e distribuir seus trabalhos (por exemplo, em repositórios institucionais, sites e perfis pessoais) a qualquer momento, após o processo editorial da Revista LaborHistórico.