Fotografias como estratégia metodológica: perscrutando formas de tratamento pronominais brasileiras, moçambicanas e angolanas
DOI:
https://doi.org/10.24206/lh.v1i1.4789Keywords:
sociolinguística, pragmática, metodologia, formas de tratamento, pronomes pessoais.Abstract
Brasil, Moçambique e Angola compartilham da língua portuguesa. Entretanto, esse sistema linguístico é atualizado de modos particulares em função de cada um dos contextos nacionais e de suas idiossincrasias. Particularmente, essa situação é válida ao se observar os usos pronominais da língua portuguesa em suas variedades brasileira, angolana e moçambicana. Ao se considerar apenas situações de interlocução, o sistema dispõe de pronomes pessoais que contemplam recursos pragmáticos de cortesia, intimidade, polidez, distanciamento hierárquico etc. por meio de formas como tu, você, o senhor/a senhora, vocês, os senhores/as senhoras. Além dessas formas pronominais, ainda está disponível sistemicamente ao falante a ausência do pronome (ou forma zero), em que a marca pessoal é demonstrada pela desinência verbal. Para a realização dessa pesquisa comparativa entre as três variedades do português, algumas escolhas metodológicas foram decisivas. Em especial, fez-se imprescindível o resgate de uma metodologia utilizada por pesquisadores brasileiros nos anos 1980. Trata-se do emprego de fotografias como motivador para a realização das entrevistas com os informantes. A partir da seleção das imagens de perfis sociais, foi possível realizar as entrevistas com os informantes. A proposta feita aos entrevistados era que lhes seria indicada, para cada imagem, uma instrução específica contendo um pedido acerca de endereço, referência a uma pessoa, o preço de determinado produto etc. Tendo compreendido a instrução, o informante estabelecia um diálogo com a pessoa da fotografia -- a maioria dos informantes compreendia prontamente a proposta da entrevista e produzia naturalmente diversas formas de tratamento. Em geral, há a possibilidade de se estabelecer algumas tendências no comportamento linguístico dos informantes de um mesmo país, corroborando com a assertiva de que o português brasileiro, o moçambicano e o angolano são variedades linguísticas autônomas.
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