A categoria socioprofissional: uma proposta de abordagem para o estudo das formas de tratamento
DOI:
https://doi.org/10.24206/lh.v1i1.4788Palabras clave:
formas de tratamento, filologia, cartas, vossa mercê, século XVIII.Resumen
O presente artigo propõe a inserção de uma nova categoria para analisar o uso das formas de tratamento (doravante FT's) em língua portuguesa, especificamente no português brasileiro setecentista e oitocentista. Uma das principais categorias utilizadas em pesquisas que buscam descrever e analisar a história e o uso das FT's são aquelas ligadas à simetria e à assimetria das relações epistolares, que procuram estabelecer as FT's preferenciais de acordo com o tipo de relação. A partir de um corpus constituído por cartas oficiais lavradas na capitania de São Paulo entre 1765 e 1775, procedeu-se à classificação das relações epistolares em simétricas e assimétricas, apoiada em rigoroso estudo do contexto sócio-histórico da época. Verificou-se, no entanto, que, independentemente da simetria ou assimetria da relação, a FT preferencial era vossa mercê. A fim de comprovar se se tratava de uma particularidade da amostra, ampliou-se o corpus de pesquisa, acrescentando-se documentação de natureza semelhante com datação tópica variada, a saber: capitanias do Rio de Janeiro, de Santa Catarina e da Bahia, além de cartas da região da Baixada Santista. Novamente, constatou-se o largo uso da abreviatura correspondente à FT vossa mercê tanto nas relações simétricas quanto assimétricas. Propõe-se, então, o uso da categoria socioprofissional do remetente e do destinatário — de acordo com abordagem teórica desenvolvida por Marquilhas (2000) — associada à classificação da relação epistolar nos eixos simétrico e assimétrico. A categoria socioprofissional é fator relevante para a escolha de FT Ìs, conforme demonstrado por Monte (2013). O tratamento entre a categoria socioprofissional dos militares, por exemplo, dá-se quase exclusivamente por vossa mercê, independentemente da simetria/assimetria da interlocução, enquanto eclesiásticos marcavam linguisticamente as posições hierárquicas superiores por meio do uso de FT's de alto valor honorífico, como vossa senhoria e vossa reverendíssima.
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