Tabu linguístico de decência sob o viés sócio histórico: o campo semântico das relações extraconjugais e extraoficiais na história da língua portuguesa
DOI:
https://doi.org/10.24206/lh.v8i2.48922Palavras-chave:
Periodização. Linguística Histórica. Léxico histórico. Tabu de decência.Resumo
Este trabalho, a partir do aporte teórico dos Estudos do Léxico e do Léxico Tabu (ULLMANN, 1964; KROLL, 1984; BIDERMAN, 1992, 2006; ISQUERDO, 2008; ORSI, 2012), propõe-se a revisitar o campo semântico lexical tabuístico das relações extraconjugais e extraoficiais na história da língua portuguesa. Como objetivos específicos, visamos a descrever as variantes amancebado(a), amasiado(a), amásio(a), amigo(a), amigado(a), concubino(a) e mancebo(a) sob uma perspectiva variacionista e também léxico-semântica; relacionar a fixação dessas unidades lexicais na periodização da história da língua portuguesa a partir da proposta de Lindley Cintra (apud GALVES, 2012); evidenciar marcas de mudança lexical e semântica desse campo semântico nas fases da língua portuguesa, de modo geral. Os resultados preliminares apontaram para o maior grau de conservadorismo, em termos cronológicos, da variante amigo(a), majoritária no imaginário do português medieval, em corpora datados dos séculos XIII a XV. Amigo(a) e mancebo(a), as variantes mais antigas, concorrem nesse período da língua. Mesmo com a prevalência da primeira variante no português antigo, a segunda aparece mais no contexto pejorativo de autos criminais portugueses das fases seguintes do português (médio, clássico e moderno), bem como no Português Brasileiro, sob a forma amancebado(a). Data-se, ainda, do século XVI, a documentação do campo lexical do concubinato, já no assim chamado português clássico. Uma análise preliminar que contrasta a norma do Português Brasileiro do Paraná e do Português Europeu no século XVII atesta uma competição entre mancebia e concubinato, com prevalência da primeira variante na norma do PE e da segunda na norma do PB paranaense. Futuros estudos histórico-dialetológicos que contrastem ambas as normas regionais poderão dar conta de comprovar os resultados apontados na análise dessas primeiras amostras.
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