A República sem poetas: a arte de vanguarda na contra-revolução Russa
Schlagworte:
arte, vanguardas, revolução, autonomia.Abstract
A relação entre Estado e arte como uma relação baseada no controle da “ordem pública”, do primeiro sobre a última, é um tema de discussão desde os gregos antigos. É muito conhecida a representação do poeta e da poesia não-narrativa feita por Platão em A República. Como diz Agamben, Platão “vê no poeta um elemento de perigo e de ruína para a cidade”. A palavra do poeta – e a poesia grega dependia da palavra dita, declamada – era uma palavra potencialmente perigosa e desestabilizadora da ordem, devendo, por isso, ser banida da cidade-estado.
A Rússia soviética, a partir de determinado momento, também compartilhou o temor diante da possibilidade da arte mobilizar pessoas, posições, ideias contrárias ao regime. Era uma justificativa para a perseguição e para o controle estatal sobre a arte, sobre as ideias, sobre a vida. Mas, além disso, ou como expressão disso, havia um elemento característico do pensamento político totalitário, avesso às experiências libertárias das revoluções de 1917 e da constituição de 1918, que era a intolerância e rejeição a tudo o que aparecia como diferença e, enquanto diferença, revelava-se como erro, reacionário, contra-revolucionário, mesmo sem ser, mesmo desejando e afirmando um projeto socialista e revolucionário, entretanto diferente, ou, pode-se dizer, radicalmente socialista e revolucionário, efetivado em 1917 por meio dos soviets. A palavra de ordem “Todo poder aos soviets” mobilizou militantes revolucionários, trabalhadores, artistas revolucionários que preconizaram a destruição da “arte acadêmica”, do conservadorismo e a construção de novas formas de viver e escrever, filmar, encenar, produzir. Cubofuturistas, construtivistas, suprematistas, artistas da Oberiu, todos eles se engajaram na utopia soviética e ao mesmo tempo em que socialistas revolucionários de esquerda e anarquistas eam jogados na ilegalidade, também começaram a ser perseguidos, presos e assassinados.
Este ensaio faz uma breve análise sobre esta experiência de tragédia e invenção, de relações entre arte, política e vida, procurando possibilidades em um mundo sob o risco do fascismo.
Palavras-chave: arte, vanguardas, revolução, autonomia.
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