V. 6 N. 17 (2024)
EDITORIAL: UMA CRÍTICA À COLONIZAÇÃO DA NATUREZA
É com grande satisfação que anunciamos mais uma edição da Revista Estudos Libertários (REL) da UFRJ.
Em meio a conjuntura de emergência ambiental que atinge a região sul do Brasil neste momento, reforçamos nossa posição crítica ao capitalismo e sua lógica mercadológica que trata a natureza como objeto para obtenção de lucros. Nas reflexões de Antônio Bispo dos Santos, prioriza o desenvolvimento em detrimento do envolvimento e da biointeração, o saber sintético ao saber orgânico (SANTOS, 2023, p. 3 e 4). Em outras palavras, o capital à pachamama.
Nesse momento, ainda predominam guerras pelo mundo como na Palestina, na Ucrânia e na África, principalmente na região do Sahel. Lamentamos profundamente os neocolonialismos que priorizam dinheiro em detrimento da vida. Para contribuir para a a crítica desses processos que lançamos mais um número da nossa revista. Temos recebido muitos artigos e para dar conta deles estamos lançando mais volumes do que o previsto. Trata-se de um sinal de pujança de uma perspectiva que não se rende às guerras, ao eurocentrismo, ao racismo, ao patriarcado bege, ao capitalismo, à estadolatria e todas as suas discriminações. Estamos no front que nos é possível. Apresentamos abaixo pequenos resumos dos artigos.
O primeiro texto que apresentamos é a transcrição do discurso de Wallace de Moraes proferido durante a cerimônia de posse da direção do NEABI/UFRJ realizada em 13 de maio de 2024, que já alcançou milhares de visualizações no nosso canal no youtube e muitos pedidos da sua publicação. Aqui vai. Trata-se de uma nova proposta para enfrentar os racismos institucional e epistêmico com novo papel para o NEABI. O título do artigo resume bem a sua proposta: “NEABI: POR UMA POLÍTICA PÚBLICA CONTRACOLONIAL, DECOLONIAL E QUILOMBOLA DE ENFRENTAMENTO AO RACISMO NA EDUCAÇÃO BRASILEIRA”. Vida longa ao NEABI da UFRJ!
O segundo artigo apresenta uma análise decolonial na área da Arqueologia. Produzidos pelos autores: Gabriela de Andrade Monteiro, Leandro Elias Canaan Mageste e Alencar de Miranda Amaral, o texto: “PRODUÇÃO DE CONHECIMENTO E DECOLONIALIDADE: REFLEXÕES SOBRE OS CURSOS DE ARQUEOLOGIA DA UNIVASF E DA UFPI” expõe as tensões em torno de modelos colonialistas, valendo-se de métodos, teoria e conceitos acríticos, em contraposição com a Arqueologia descolonizada ou Indisciplinada, voltada para as subjetividades.
No terceiro artigo desta edição, intitulado: “PRODUÇÃO DE SUBJETIVIDADES CRÍTICAS E CONTRA HEGEMONIA EM CINECLUBES NA BAIXADA FLUMINENSE: UMA ABORDAGEM CARTOGRÁFICA E PSICOSSOCIAL”, Adriana Carneiro de Souza, entrevista fundadores e participantes dos cineclubes locais, buscando analisar esses espaços como iniciativas de constituição dos sujeitos e suas subjetividades, mediante um olhar contra-hegemônico.
Já o artigo “O BEM VIVER E AS EXPERIÊNCIAS DOS QUILOMBOS: ESTABELECENDO ALGUMAS CONEXÕES”, Marcos Antônio de Souza Lopes apresenta algumas experiências e resistências quilombolas voltadas à promoção da liberdade. O autor desenvolve uma crítica à noção de desenvolvimento convencional, advogando pelo estabelecimento de uma relação de harmonia entre os seres humanos e a natureza, além de apresentar algumas conexões entre os quilombos e a perspectiva do Bem Viver.
No quinto artigo, “RUPTURA E FIM DA TRANSIÇÃO DEMOCRÁTICA NO BRASIL: ESQUERDA, DIREITA: SENTIDO!”, Clayton Emanuel Rodrigues, Cleildes Marques Santana e Andressa dos Santos Silva, através de pesquisa historiográfica e sociológica, analisam as razões do recrudescimento autoritário no Brasil e as tensões entre: os movimentos populares, por um lado, e a disposição negocial das elites e seus partidários, por outro, em um processo que vem impondo amargas exclusões aos primeiros.
No sexto artigo “SOBRE A RESPONSABILIDADE REPRESENTATIVA DE FIGURAS HISTÓRICAS MARGINALIZADAS: O CASO DE KAN’NO SUGAK (1881-1911), UMA ANARQUISTA JAPONESA”, Felipe Chaves Gonçalves Pinto discute o processo diacrônico e ideológico que envolve a criação e recepção de narrativas que representam figuras históricas marginalizadas, tendo como referência a militante anarquista e feminista japonesa Kan’no Sugako.
Por fim, apresentamos a contribuição de Isabel Sant’Anna Andrade. No artigo: OS JANGADEIROS LIBERTOS E O CALDEIRÃO DA SANTA CRUZ DO DESERTO: MOVIMENTOS DE UM NORDESTE NEGRO INSURGENTE, a autora faz uma crítica a desracialização dos negros no Nordeste, propondo uma leitura racial sobre José Lourenço e a comunidade do Caldeirão da Santa Cruz do Deserto, apresentando-os como uma experiência empírica de autogestão e quilombismo.
Por fim, agradecemos aos autores e pareceristas anônimos pela confiança. Parabenizamos pelo excelente trabalho das editoras assistentes e de layout Gabrielly Sabóia e Ana Beatriz Plácido, respectivamente. Seguimos na luta contra toda forma de autoritarismo, contra o eurocentrismo e suas colonialidades, em especial, a da natureza, nesse momento de calamidade no Rio Grande do Sul. Expomos aqui brevemente, as principais teses defendidas nesta edição pelos nossos autores, notoriamente marcadas pela diversidade. Mas indicamos fortemente que procedam a leitura mais profunda dos nossos artigos. Boa leitura!
Cordialmente,
Wallace dos Santos de Moraes (Editor Geral da REL)
Juan Filipe Loureiro Magalhães (Editor Adjunto da REL)