Descrição e prescrição: sobre os usos gráficos e a ortografia em sincronias passadas

Autores

  • Maria Hozanete Alves de Lima Universidade Federal do Rio Grande do Norte
  • Felipe Morais de Melo Instituto Federal do Rio Grande do Norte

DOI:

https://doi.org/10.24206/lh.v9i2.55278

Palavras-chave:

Grafemática História. Ideias ortográficas. Tratadistas. Língua escrita.

Resumo

A descrição dos usos gráficos e a prescrição ortográfica são dois motores que atravessam a pleno funcionamento toda a história da língua portuguesa, a datar do século XVI, com as primeiras obras metaortográficas, até os dias de hoje, com as pesquisas linguísticas ou a escola, por exemplo. São eles os propulsores deste trabalho, cujo objetivo é levantar uma reflexão, através de um repasse historiográfico, a respeito da presença dos tratados e tratadistas nas investigações de Grafemática Histórica voltadas para o português brasileiro (PB) de maneira a problematizar a contribuição dessas fontes para entender a engrenagem da língua escrita e da ortografia em sincronias passadas, sobretudo no Brasil. Para tanto, percorrem-se três etapas, cada qual fundamentada majoritariamente nas premissas e ideias de um autor ligado aos estudos diacrônicos: 1º. partindo de Ramírez Luengo (2012), um inventário de algumas pesquisas nacionais relacionadas ao PB na área da Grafemática Histórica; 2º. a apresentação do intrincado cenário histórico, no mundo lusófono, tanto das ideias ortográficas, com aporte central em Gonçalves (2013), quanto da sociedade brasileira; e 3º. a reflexão, nas trilhas provocadas por Morais de Melo (2018), acerca das pesquisas grafemáticas de orientação diacrônica voltadas ao PB em face do complexo quadro metaortográfico e extralinguístico exposto. O trabalho identifica uma prevalência do uso de tratadistas nas pesquisas em apreço e constata, nas veredas lusófonas, não só uma peculiar e bastante acentuada profusão de ideias ortográficas mas também uma realidade de bastante penúria social e educacional no Brasil. Do cruzamento desses resultados, repensa o papel dos tratadistas nos estudos da língua escrita em perspectiva diacrônica dirigidos ao PB. 

Biografia do Autor

Maria Hozanete Alves de Lima, Universidade Federal do Rio Grande do Norte

Professora do Departamento de Letras e do Programa de Pós-graduação em Estudos da Linguagem, da Universidade Federal do Rio Grande do Norte.

Felipe Morais de Melo, Instituto Federal do Rio Grande do Norte

Professor de Língua Portuguesa do Instituto Federal do Rio Grande do Norte.

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Publicado

29-12-2023

Edição

Seção

Artigo - Dossiê "Diálogos entre a sócio-história do português e a história social da cultura escrita"