Tendências metafóricas no léxico português: o que os dicionários não dizem

Authors

DOI:

https://doi.org/10.24206/lh.v6i3.35048

Keywords:

Léxico. Mudança semântica. Dicionários. Lexicografia. Linguística histórica.

Abstract

A lexicografia portuguesa é tradicionalmente baseada em trabalhos lexicográficos anteriores. Como resultado desta tradição, os dicionários contemporâneos apresentam um grande número de significados para cada entrada, mas não mencionam a frequência de uso ou as mudanças semânticas que as palavras sofreram ao longo do tempo. É o caso do vocábulo esquisito, definido nos dicionários como ‘estranho’, mas também como ‘elegante’, ou de bizarro (inicialmente ‘corajoso’, hoje em dia ‘estranho’). O significado original destas palavras, que era positivo, sofreu uma mudança que lhes criou uma conotação negativa. Por outro lado, palavras como bestial e brutal (ambas com o significado inicial de ‘selvagem’) ganharam um significado positivo bastante inesperado (‘sensacional’). Que usos metafóricos permitiram estas mudanças? E como lidam os dicionários com estas alterações? A análise de fontes lexicográficas históricas e contemporâneas pode ajudar-nos a elucidar este tipo de mudanças semânticas no léxico português.

Author Biographies

Esperança Cardeira, Universidade de Lisboa-Faculdade de Letras-Centro de Linguística

Professora Auxiliar da Faculdade de Letras e membro do Centro de Linguística da Universidade de Lisboa.

Alina Villalva, Universidade de Lisboa-Faculdade de Letras-Centro de Linguística

Professora Auxiliar da Faculdade de Letras e membro do Centro de Linguística da Universidade de Lisboa.

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Published

2020-12-20