Procedimentos de retextualização para o disfarce da cópia no século XVIII: o caso da Memória Histórica da Capitania de São Paulo
DOI:
https://doi.org/10.24206/lh.v2i1.4811Abstract
No início do século XX, levantou-se uma problemática em torno da obra manuscrita Memória História da Capitania de São Paulo (1796), de Manuel Cardoso de Abreu, acusada de ser um plágio de obras dos historiadores setecentistas Pedro Taques de Almeida Paes Leme -- História da Capitania de São Vicente; Notícia Histórica da Expulsão dos Jesuítas do Colégio de São Paulo e Nobiliarquia Paulistana: Histórica e Genealógica -- e Frei Gaspar da Madre de Deus -- Memórias para a História da Capitania de São Vicente. No entanto, a referência ao plágio no século XVIII é anacrônica, uma vez que a sua prática se configura como uma violação do direito de autor, em sentido estrito de roubo de um texto, somente na primeira metade do século XIX, a partir da formalização dos Direitos Autorais. O confronto dos textos permitiu verificar uma reprodução integral de muitos trechos e parágrafos, mas a Memória Histórica não se configura como sua cópia literal de suas fontes, uma vez que Manuel Cardoso de Abreu inseriu uma série de alterações nos textos que lhe serviram de modelo, dando origem a um novo texto. Isso revela que o aproveitamento das fontes não foi feito sempre por um mero decalque, mas que a intervenção de Abreu foi muitas vezes voluntária e acabou por deixar a sua marca no texto.Desta forma, fundamentando-se nos princípios teóricos e metodológicos da Crítica de Fontes e da Crítica Textual, este trabalho objetiva apresentar os procedimentos de retextualização das fontes de que se valeu Manuel Cardoso de Abreu para a composição de seu texto, com o propósito de disfarce da cópia, os quais incluem a adição ou supressão de elementos linguísticos ou informações textuais, a reordenação da ordem de palavras e orações, a substituição de palavras ou construções gramaticais e a reelaboração de frases, trechos ou parágrafos.
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