Word and Power: Language and Authority in Sergipe’s Nineteenth-Century Wills

Authors

Abstract

During the nineteenth century, the decision to write a will implied recording the final thoughts and desires of someone, as well as the management of a certain part of the patrimony and the ordination of how to proceed in order to die as a faithful and true catholic. Oriented towards the future, the will was preceded by a pattern of writing that refers to the centuries-old tradition of this textual genre. Amongst the formula, it is possible for us, as historians, to trace expressions of intimacy and subjectiveness that leads us to the person who writes or dictates their last desires. Moreover, it is also noted variations and enunciates choices that communicate intentions to exercise authority. The reflections following this article were based on the effort to examine an historical source, the will, as a document that, in the past, was intentionally used to say something, to communicate power and authority. It will be demonstrated, finally, in which form and with which words the wills were employed as a material-written support to register power, to enforce the authority of the testator, and, ultimately, to maintain both, power and authority, extended in time and elongated towards the future. A future in which, luckily, would remain of the testators only their power words. 

Keywords: Wills. Language. Power. Authority. Time.

References

ARAÚJO, Ana Cristina. A morte em Lisboa: atitudes e representações (1700–1830). Tese (Doutorado em Letras, História Moderna e Contemporânea), Faculdade de Letras, Universidade de Coimbra, 1995.

ARIÈS, Philippe. L’homme devant la mort. Paris: Le Seuil, 1977.

ARIÈS, Philippe. Sobre a História da Morte no Ocidente Desde a Idade Média. Lisboa: Editorial Teorema, Lda, 1989.

BACELLAR, Carlos de Almeida Prado. Os senhores da terra: família e sistema sucessório de engenho do Oeste paulista. Campinas: Ed. Unicamp, 1997.

BEIRANTE, Maria A. A história da morte em Portugal (século XII-XIV). Estudos de História de Portugal, vol. I, séculos X-XV. Lisboa: Editorial Estampa, 1982.

BÉLIGAND, Nadine. “Los amos ante la muerte y frente a sus esclavos”. In: GUEDES, Roberto (org.). Últimas Vontades: testamento, sociedade e cultura na América Ibérica [séculos XVII e XVIII]. Rio de Janeiro: Mauad X, 2015.

BENVENISTE, Émile. Problemas de linguística geral, volume dois. Campinas: Pontes, 1989.

BOSCHI, Caio César. Os leigos e o poder: irmandades leigas e política colonizadora em Minas Gerais. São Paulo: Ática, 1986.BENVENISTE, Émile. Problemas de linguística geral, volume dois. Campinas: Pontes, 1989.

BOSCHI, Caio César. Sociabilidade religiosa laica: as irmandades. In: BETHENCOURT, F.; CHAUDHURI, K.. História da expansão portuguesa. Temas & Debates, v. 3, p. 352-371, 1998.

BOURDIEU, Pierre. Les modes de domination. Actes de la recherche en sciences sociales, v. 2, n. 2, p. 122-132, 1976.

CAMPOS, Adalgisa Arantes. Arte sacra no Brasil colonial. Belo Horizonte: Editora C/Arte, 2011.

CARVALHO, Elisa Maria Domingues da Costa. A fortuna ao serviço da salvação da alma, da família e da memória, através dos testamentos dos arcebispos e dignatários de Braga na Idade Média (séculos XII e XV). Lusitana Sacra, Lisboa, vol. 2, núm. 14, p. 15-40, 2002.

CASTILHO, Célia Maria Moraes de. Inventários e Testamentos como documentos linguísticos. Filologia e linguística portuguesa, vol. 13, núm. 1, p. 269-286, 2011.

CHARTIER, Roger. Les arts de mourir: 1450-1600. Annales, Economies, Sociétés, Civilisations, v. 31, n. 2, p. 51-75, 1976.

CHAUNU, Pierre. La mort à Paris: 16, 17, 18 siècles. Paris: Fayard, 1978.

DAVIS, Natalie Zemon. Histórias de perdão e seus narradores na França do século XVI. São Paulo: Companhia das Letras, 2001.

DURÃES, Margarida. Estratégias de sobrevivência econômica nas famílias camponesas minhotas: os padrões hereditários (séculos XVIII – XIX). Trabalho apresentado no XIV Encontro Nacional de Estudos Populacionais. Caxambú, Minas Gerais, 2004.

FALCON, Francisco José Calazans. A época pombalina: política econômica e monarquia ilustrada. São Paulo: Ática, 1993.

FARIA, Sheila de Castro. A colônia em movimento: fortuna e família no cotidiano colonial. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1998.

FARIAS, Nathiely Feitosa. “Mulher de posses, senhora de si: poder, autoridade e condição feminina na sociedade agrária-escravista de Sergipe, no século XIX”. In: MALAQUIAS, C. O.; ANTONIO, E. M. M. (org.). Revisitando Sergipe oitocentista: fontes históricas e novos temas de pesquisa. Aracaju: Editora SEDUC, 2022.

FOUCAULT, Michel. As palavras e as coisas. Uma arqueologia das ciências humanas. Lisboa: Edições 70, 2019, p. 105.

GALIÁN, Maria José Heredia. Los testamentos. Un tipo textual con tradición: de la Edad Media a la actualidad. Revista de Investigación Lingüística, v. 5, n. 1, p. 155-178, 2002.

GODELIER, Maurice. O enigma do dom. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2001.

GONÇALVES, Andréa Lisly. As margens da liberdade: estudo sobre a prática de alforrias em Minas colonial e provincial. Belo Horizonte: Fino Traço, 2011.

GINZBURG, Natalia. As pequenas virtudes. São Paulo: Companhia das Letras, 2020.

HONESKO, Vinícuis Nicastro. Ensaios sobre o sensível. Poéticas políticas do pensamento. Belo Horizonte: Âyiné, 2021.

LARA, Silvia Hunold. Campos da violência: escravos e senhores na capitania do Rio de Janeiro, 1750-1808. Campinas: UNICAMP/IFCH/CECULT, 2023.

LARA, Silvia Hunold. Fragmentos setecentistas: escravidão, cultura e poder na América portuguesa. São Paulo: Companhia das Letras, 2007.

LAUWERS, Michel. La mémoire des ancêtres, le souci des morts: morts, rites et société au Moyen Âge. Paris: Beauchesne, 1996.

LEWIN, Linda. Surprise heirs: Illegitimacy, patrimonial rights, and legal nationalism in Luso-Brazilian inheritance, 1750-1821. Stanford: Stanford University Press, 2003.

MALAQUIAS, Carlos de Oliveira; FARIAS, Nathiely Feitosa. Legados de liberdade: alforrias testamentárias em Sergipe, primeira metade do século XIX. Portuguese Studies Review, edited volumes series, núm. 6. Peterborough /Toronto: Baywolf Press, pp. 209-237, 2024.

MARIA, Manuela. B. M. Morrer no Porto durante a época Barroca: atitudes e sentimentos religiosos. Dissertação de Mestrado, F.L.U.P, Porto, 1991.

MARTINS, Ana Paula Vosne. A política dos sentimentos e a questão social no século XIX. Anos 90, Porto Alegre, v. 24, n. 46, p. 239-268, 2017.

MARTINS, William de Souza. Contas testamentárias: a justiça eclesiástica e a execução de testamentos no Rio de Janeiro (c.1720-1808). In: GUEDES, Roberto; RODRIGUES, Cláudia; WANDERLEY, Marcelo da Rocha. Últimas vontades: testamento, sociedade e cultura na América Ibérica (séculos XVII e XVIII). Rio de Janeiro, Mauad X, 2015.

MATTOSO, Katia M. de Queiroz. Da revolução dos alfaiates à riqueza dos baianos no século XIX: itinerário de uma historiadora. Salvador: Currupio, 2004.

MEILLET, Antoine. Linguistique historique et linguistique générale. Paris: Champion, 1982.

MUDROVCIC, Maria Inés. Historia, narración y memoria: los debates actuales en filosofía de la historia. Madrid: Akal, 2005, pp. 88-98.

NASCIMENTO, Karleando P. O léxico em testamentos da capitania do Ceará do século XIX. In: XIMENES, E. A., NUNES T. R. Estudos filológicos e linguísticos na Bahia, no Ceará e em Sergipe. Fortaleza: EduECE, 2019.

NOWACK, Kerstin. Como Cristiano que soy”: testamentos de la elite indígena en el Perú del siglo XVI. Indiana, v. 23, p. 51-77, 2006.

OLIVEIRA, Anderson José Machado de. As Irmandades dos homens de cor na América Portuguesa: à guisa de um balanço historiográfico. Revista de História da UNIABEU, v. 3, n. 5, p. 1-14, 2013.

PADRÓN, Loisi S. Estudio de testamentos de los siglos XVI, XVII y XVIII escritos en La Habana. Descripción linguística y diplomática. Rétor 8, v. 8, p. 193-220, 2018.

PAIVA, Eduardo França. Escravos e libertos nas Minas Gerais do século XVIII: estratégias de resistência através dos testamentos. São Paulo: Annablume, 2009.

PEDROZA, Manoela. Engenhocas da moral: redes de parentela, transmissão de terras e direitos de propriedade na freguesia de Campo Grande (Rio de Janeiro, século XIX). Rio de Janeiro: Arquivo Nacional, 2011.

POCOCK, John. A. Linguagens do ideário político. São Paulo: EDUSP, 2003.

POCOCK, John. A. Verbalizing a political act: toward a politics of speech. Political Theory, v. 1, n. 1, p. 27-45, 1973.

PORTILLA, Miguel L. El libro inédito de los testamentos indígenas de Culhuacán, su significación como testimonio histórico. Estudios de cultura nahuátl, vol. 12, pp. 11-31, 1976.

REIS, João José. A morte é uma festa: ritos fúnebres e revolta popular no Brasil do século XIX. São Paulo: Companhia das Letras, 2012.

REIS, João José. Identidade e diversidade étnicas nas irmandades negras no tempo da escravidão. Tempo, v. 2, n. 3, p. 7-33, 1996.

REIS, José Carlos. O entrecruzamento entre narrativa histórica e narrativa de ficção. In: REIS, José Carlos. O desafio historiográfico. Rio de Janeiro: Editora da FGV, 2010.

REVENGA, Pilar Díez. La lengua de los testamentos (siglos XV y XVI). Revista de Investigación Lingüística, núm. 1, pp. 37-58, 1997.

RICOEUR, Paul. O tempo narrado. Tempo e narrativa. São Paulo: WMF, 2010.

ROCHA, Anderson Jacob. A língua, a história e as práticas cartoriais e religiosas em testamentos produzidos em Passos no século XIX. 2005. 170 f. Dissertação (Mestrado em Língua Portuguesa) - Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, São Paulo, 2005.

RODRIGUES, Cláudia. As leis testamentárias de 1765 e 1769 no contexto das reformas pombalinas do mundo luso-brasileiro. Anais do XIII Encontro de História da ANPUH-Rio, 2008.

RODRIGUES, Cláudia. Nas fronteiras do além: a secularização da morte no Rio de Janeiro (séculos XVIII e XIX). Rio de Janeiro: Arquivo Nacional, 2005.

RODRIGUES, Cláudia; DILLMANN, Mauro. “Desejando pôr a minha alma no caminho da salvação”: modelos católicos de testamentos no século XVIII. História Unisinos, v. 17, n. 1, p. 1-11, 2013.

ROSA, João Guimarães. Grande Sertão: Veredas. São Paulo: Companhia das Letras, 2019.

ROSAL, Miguel A. Diversos aspectos relacionados con la esclavitud en el Río de la Plata a través del estudio de testamentos de afroporteños, 1750-1810. Revista de Indias, v. 56, n. 206, p. 219-235, 1996.

SCARANO, Julita. Devoção e escravidão: a Irmandade de Nossa Senhora do Rosário dos Pretos no Distrito Diamantino no século XVIII. Brasiliana, 1978.

SCHMITT, Jean-Claude. Os vivos e os mortos na sociedade medieval. São Paulo: Companhia das Letras, 1999.

SOARES, Márcio de Sousa. A remissão do cativeiro: a dádiva da alforria e o governo dos escravos nos Campos dos Goitacazes, 1750-1830. Rio de Janeiro: Apicuri, 2009.

SOARES, Mariza de Carvalho. Devotos da cor: identidade étnica, religiosidade e escravidão no Rio de Janeiro, século XVIII. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2000.

TELLES, José Homem C. Manual do Tabelião ou Ensaio de Jurisprudência Eurematica: a coleção de minutas dos contratos, e instrumentos mais usuais, e das cautelas mais precisas nos contratos e testamentos. Rio de Janeiro: Tipografia Nacional, 1834.

VIEIRA JÚNIOR, Antônio Otaviano. Entre paredes e bacamartes: a história da família no sertão (1780-1850). Fortaleza: Edições Demócrito Rocha; Hucitec, 2004.

VILAR, Hermínia Vasconcelos. Rituais da morte em testamentos dos séculos XIV e XV (Coimbra e Santarém) In: MATTOSO, José (org.). O reino dos mortos na Idade Média Peninsular. Lisboa: Edições João de Sá da Costa, 1996.

VIRNO, Paolo. Cuando el verbo se hace carne: lenguaje y naturaleza humana. Buenos Aires: Cactus, 2004.

VOVELLE, Michel. Piétè baroque et déchristianisation, les atitudes devant la mort en Provence au XVIII siècle. Paris: Le Seuil, 1978.

ZÚÑIGA, Jean Paul. Clan, Parentela, familia, individuo: qué métodos y qué niveles de análisis. In: BARRIERA, Darío G.; CORTE, Gabriela Dalla. Espacios de Familia: Tejidos de lealtades os campos de confrontación? España y Amperica, siglos XVI-XX. México, 2003, pp. 35-57.

Fontes

Arquivo Geral do Judiciário de Sergipe. Subsérie “Testamentos”, primeiro ofício. Número Geral 63, caixa 02, 1820-1826.

Arquivo Geral do Judiciário de Sergipe. Subsérie “Testamentos”, primeiro ofício. Número Geral 64, caixa 03, livros um e três, 1828-1841.

Arquivo Geral do Judiciário de Sergipe. Subsérie “Testamentos”, primeiro ofício. Número Geral 65, caixa 04, livros um e dois, 1829-1887.

Arquivo Geral do Judiciário de Sergipe. Testamentos. São Cristóvão, primeiro ofício. Caixa 03, número geral 69, 1822-1825.

Arquivo Geral do Judiciário de Sergipe. Subsérie “Testamentos”, primeiro ofício. Número Geral 75, caixa 09, 1850-1858.

Código Philippino, ou, Ordenações e leis do Reino de Portugal: recopiladas por mandado d’El-Rey D. Philippe I. Rio de Janeiro: Typ. do Instituto Philomathico, 1870. Livro Quarto.

Constituições primeiras do Arcebispado da Bahia feitas, e ordenadas pelo Illustrissimo, e Reverendissimo Senhor D. Sebastião Monteiro da Vide: propostas, e aceitas em o Synodo Diocesano, que o dito Senhor celebrou em 12 de junho do anno de 1707.

FRANCO, João. Mestre da vida que ensina a viver e morrer santamente. Lisboa: Lisboa Ocidental, 1738.

PINTO, Antônio Joaquim de Gouveia. Tratado regular e prático de testamentos e sucessões. Lisboa: Typ. José Baptista Morando, 1844 (1813).

SÁ, José António. Tratado sobre a origem e natureza dos testamentos. Lisboa, 1783.

BLUTEAU, Rafael. Vocabulario portuguez e latino, aulico, anatomico, architectonico, bellico, botanico: autorizado com exemplos dos melhores escritores portuguezes, e latinos; e offerecido a El Rey de Portugal D. João V. Lisboa, Officina de Pascoal da Sylva, 1712-172.

PINTO, Luís Maria da Silva. Diccionario da língua brasileira. Ouro Preto, Typographia de Silva, 1832.

Published

2024-09-16