v. 13 n. 25 (2019): Movimento em Aristóteles II

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O presente número da AFC publica o segundo grupo de artigos completando o dossiê sobre “O Movimento em Aristóteles”. Tema filosófico e científico de importância fundamental para o Estagirita, o estudo do movimento e a sua definição são prerrogativas básicas para a compreensão da sua concepção de natureza, phýsis, entre outras.

Embora tradicionalmente se fale muito da preferência no pensamento clássico pelos objetos fixos e imutáveis, talvez pela influência das interpretações dos textos platônicos além do de Parmênides, o fato é que encontramos em Aristóteles uma tentativa de pensar o imutável no mutável, uma busca do geral no particular pelas suas semelhanças formais. Recusando uma representação estática ou puramente morfológica do vivente, por exemplo, ele elabora uma concepção original e sutil da unidade alma e corpo, na qual a vida consiste em uma síntese de movimentos psíquico-corporais.

Os dois trabalhos que abrem o número atual da AFC enfocam diretamente a relação alma e corpo: o primeiro deles, de Thomas Bénatouïl, pesquisador e professor do Churchill College – Universidade de Cambrigde –, aborda as relações entre vida e movimento em Aristóteles, examinando a distinção entre plantas e animais e demonstrando porque somente o automovimento, e não o movimento ele mesmo, pode ser tomado como critério verdadeiro da vida. O segundo, de Francisco Moraes, da UFRRJ, problematiza a questão do estatuto de motor imóvel da alma e demonstra como a opção epistemológica de Aristóteles abre caminho para a consideração filosófica do corpo vivo e de sua funcionalidade.

Os dois trabalhos seguintes, abordam questões da recepção e da interpretação-tradução da definição de movimento aristotélica, e da noção capital de ‘ato’ para sua compreensão. No primeiro, Rafael Mello Barbosa, professor do CEFET-RJ, considerando a importância mútua das compreensões de movimento e de mundo, se propõe a restituir a definição mesma de movimento dada por Aristóteles – o ato do ente em potência enquanto tal –, demonstrando como ao parafraseá-la, o comentador neoplatônico Simplício, desloca o movimento para o âmbito da potência, influenciando toda uma tradição filosófica. A seguir, Luís Felipe Bellintani Ribeiro (UFF) aborda o problema da tradução dos termos enérgeia e entelékheia, que afeta diretamente a compreensão da definição do movimento em Aristóteles, considernado-se a recorrência dos dois termos nos três primeiros capítulos do livro III da Física.

Em seguida, a AFC traz a público dois trabalhos que abordam desdobramentos importantes da concepção aristotélica de movimento, o primeiro no campo da ética e o segundo no campo da psicologia. Susana de Castro (UFRJ) demonstra a função motora do bem e como as virtudes éticas caracterizam um estado ativo na ética aristotélica. Por sua parte, Carla Francalanci compara a concepção aristotélica apresentada em De Anima III com a que é exposta por Freud, no texto “A negação” (“Die Verneinung”), propondo que o texto de Freud pode ser lido como uma reelaboração da teoria aristotélica acerca da relação entre movimento, desejo e juízos.

Fechando o dossiê, a editora desses dois números da AFC dedicados ao movimento em Aristóteles, apresenta seu estudo acerca da adaptabilidade do método analógico à investigação acerca da causa comum do movimento no De motu animalium.

Para finalizar este empenho editorial, a AFC publica em primeira mão a tradução para o português dada por Rafael Mello Barbosa dos três primeiros capítulos do livro III da Física de Aristóteles, trecho notabilizado como ‘Tratado do movimento’.

Vale lembrar que os artigos aqui publicados são, em boa parte, resultantes de discussões travadas a partir do VII Simpósio Internacional Ousia, que se realizou em setembro de 2017 no IFCS/UFRJ, com a subvenção do Programa de Apoio a Eventos no País, PAEP, da CAPES e do Edital Universal do CNPq. Graças aos apoios e a essa subvenção, pudemos realizar um simpósio do qual participaram a comunidade de pesquisadores brasileiros, além de três colaboradores franceses do laboratório Ousia, através do acordo de cooperação internacional CAPES/COFECUB “PRÁTICAS E TEORIAS DA POÉTICA NA GRÉCIA ANTIGA: DE PARMÊNIDES A ARISTÓTELES”. Ao publicarmos esses trabalhos, realizamos um dos objetivos da AFC que é o de integrar em sua linha editorial os rumos e resultados da intensa colaboração existente entre os centros de pesquisas nacionais em filosofia clássica e os de universidades de vários países. Mas, sobretudo, afirmamos a importância e a excelência da produção filosófica e científica brasileira, que, a despeito dos obstáculos, segue firme na determinação de não abrir mão da sua missão, fundamental para a democracia e o desenvolvimento cultural dos cidadãos.

 

Eraci G. de Oliveira,

Editora convidada dos números 24 e 25

Fernando Santoro Editor Responsável

 

 

Publicado: 2019-09-13

Artigos

  • Mouvements et vie chez Aristote : Quelques remarques « autour » des plantes

    Thomas Bénatouïl
    1-20
    DOI: https://doi.org/10.47661/afcl.v13i25.26083
  • Alma e movimento em Aristóteles

    Francisco Moraes
    21-42
    DOI: https://doi.org/10.47661/afcl.v13i25.24769
  • Como pode o movimento ser um ato?

    Rafael Mello Barbosa
    43-56
    DOI: https://doi.org/10.47661/afcl.v13i25.27782
  • Sobre a tradução de enérgeia e entelékheia em Física III, 1-3

    Luis Felipe Bellintani Ribeiro
    57-69
    DOI: https://doi.org/10.47661/afcl.v13i25.27771
  • Ética dos apetites

    Susana de Castro
    70-78
    DOI: https://doi.org/10.47661/afcl.v13i25.28673
  • Freud e Aristóteles – Die Verneinung e De Anima III 7

    Carla Francalanci
    79-86
    DOI: https://doi.org/10.47661/afcl.v13i25.28713
  • Trama analógica do De motu animalium de Aristóteles: Funções básicas e modus operandi das analogias estruturantes

    Eraci Gonçalves de Oliveira
    87-114
    DOI: https://doi.org/10.47661/afcl.v13i25.26902

Traduções

  • Tradução da Física de Aristóteles 3, 1-3

    Rafael Mello Barbosa
    115-124
    DOI: https://doi.org/10.47661/afcl.v13i25.27785