Vol. 16 No. 31 (2022): Almas Ancestrais 1
O Volume 16, números 31 e 32 dos Anais de Filosofia Clássica, acompanha o Programa atual do Laboratório OUSIA para a investigação das Inteligências Ancestrais, lançado em 2022, com apoio do Instituto de Filosofia e Ciências Sociais da UFRJ e fomento da FAPERJ. Este programa visa ampliar as fronteiras da Filosofia Clássica para outras zonas criativas de pensamento, nas quais as diferentes expressões dos saberes antigos se encontrem na diversidade. Esta ampliação de horizontes se projeta desde o número sobre as Mulheres Míticas e os números resultantes do Festival Dionisiaca e do simpósio sobre o Tempo na Antiguidade. As sabedorias órfico-dionisíacas expressas nas tragédias, os saberes das narrativas dos itans da tradição iorubá e outras formas de expressão tradicional trouxeram para uma zona crítica o conceito de Filosofia Clássica. A contínua lida com a Filosofia Pré-Socrática exigia cada vez mais este olhar voltado para as expressões poéticas da sabedoria; e este olhar se desdobra na diversidade das culturas.
O tema Almas Ancestrais não foi proposto nem proposital, mas surgiu quase que naturalmente entre os artigos acolhidos na submissão contínua. Assim temos Carlo Santaniello discutindo as funções cognitivas dos sentidos e do pensamento dos mortais nos poemas sapienciais de Empédocles. Erick Araújo, Gabriele Cornelli e Beatriz de Paoli, por sua vez, trazem das tragédias clássicas para a contemporaneidade o tema imemorial das drogas (phármaka) constitutivo da humanidade em sua vontade ambivalente de poder e transformação, com a natureza e a arte. Micael Silva reaviva o dossier da Dionisíaca com uma ampla e variada exposição da presença feminina no universo dos mitos e ritos bacantes. Nathaniel Lovatto percorre a influência e recepção das teorias filosóficas antigas para a constituição da concepção de alma em Agostinho, verdadeiro divisor na história ocidental e precursor da interiorização subjetiva moderna. Cristiane Azevedo aplica o método dialético sofístico dos discursos duplos para interpretar como contraposição complementar os discursos ontológicos de Parmênides e Górgias, com margem a refletir sobre as origens eleáticas do dualismo clássico. Completando a seção de artigos, Henrique Cairus e Julieta Alsina perscrutam diversas noções pitagóricas entre pensadores pré-socráticos que contribuiriam para a constituição da fundamentação teórica do Corpus Hipocrático, tornando tênue e, quem sabe, nula, a distância entre os filósofos da natureza e médicos que aplicam nos seus tratamentos tais princípios e filosofias.
Este número traz também duas traduções inéditas em português: os cinco primeiros capítulos do De Moto Animalium de Aristóteles e o Tratado para livrar-se das Obsessões de Xunzi, texto que abre o olhar de nossa revista para a filosofia clássica chinesa.
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