“Da mágoa, sem reméDio, De perDer-te”: o luto como trabalho Da linguagem na poesia De camões
DOI :
https://doi.org/10.35520/diadorim.2017.v19n1a13077Résumé
Ao abordar a arte, especifcamente a poesia, como meio (espaço e ato) de resistência, este ensaioparte de duas constatações e de uma confssão. As constatações: (1) para além de todo poder de
ordem histórica, de todo instrumento de coerção, seja político, econômico, ideológico, moral
ou cultural a que o homem esteja submetido e deva resistir, está a certeza da fnitude -- a sua e
a daqueles que ama. Também (sobretudo, talvez) diante da consciência dessa condição mortal
que limita, oprime e fere o humano, cabe resistir. O luto, como modo de lidar com a morte, é,
portanto, ato de resistência; (2) Se a resistência se organiza no campo da arte, ela deve se valer
das armas próprias dessa linguagem, pelo que aqui importa, tanto quanto a temática abordada
na poesia elegíaca de Camões, a forma poética como elaboração de um trabalho de luto. A confssão: este texto é em si mesmo um trabalho de luto, que se vale do exercício de pensamento
próprio do ensaio como forma para elaborar a perda que motiva sua escritura. A partir desses
pressupostos e desse lugar de fala, realiza-se nas páginas que seguem uma leitura atenta de três
sonetos camonianos que compõem o assim chamado ciclo a Dinamene, pondo-os em diálogo
com as reflexões de Sigmund Freud, Jacques Lacan e Jean Allouch sobre o luto, bem como com
a teoria de Maurice Blanchot sobre a linguagem, que a concebe como trabalho de luto.
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