v. 19 n. 1 (2017): Literatura

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O catastrófco desenrolar destas já quase duas décadas do século XXI deixa em nosso imaginário uma amarga certeza: estamos inegavelmente na vigência de um tempo de crise cuja imensa pluralidade de conceitos e de posicionamentos nem sempre apontam para uma ética salutar ou, se quisermos, para uma partilha do sensível, na expressão de Jacques Rancière. Frente ao caos político-econômico instaurado em nível global, frente à violência das guerras que assolam o Oriente Médio, frente ao desabrigo dos refugiados sírios, frente, enfm, à miserabilidade, à perda das raízes culturais, à diluição das territorialidades e à frenética dizimação de etnias não hegemônicas e/ou de populações minoritárias que buscam demarcar as suas identidades sexual e de gênero -- temas que mais do que justifcadamente se têm apresentado como urgências políticas atuais --, frente a tudo isso, eis a pergunta: haverá lugar para o florescimento da literatura em terreno tão inóspito? Por outras palavras: qual será a necessidade da arte diante de um mundo reifcado? Qual será a sua ambiência, o seu possível espaço de atuação, num contexto sócio-político-econômico-cultural que se apresenta cruelmente sob o signo de um capitalismo perverso e avassalador?

A boa arte é sempre um espaço de resistência, bem o sabemos, pois não há democracia sem a defesa do atrito. Acreditando ser a literatura um lugar de enfrentamento entre o artista e o mundo, este número da Revista Diadorim se debruçou sobre o tema arte e resistência nas literaturas portuguesa e africanas, abarcando propostas de discussão que, de Camões a Luis Quintais, de Saramago a Pepetela, evidenciam elas próprias o quanto o lugar da literatura é o da luta, na medida mesma em que é preciso -- e talvez nunca tenha sido tão necessário -- resistir!

Publicado: 2017-06-30

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