v. 32 n. 1 (2022): Dossiê Feminismos e Serviço Social
O dossiê da revista Praia Vermelha, "Feminismos e Serviço Social", responde a uma necessidade premente, sob o ponto de vista teórico e ético-político, de desvelar as lógicas que envolvem a produção e reprodução social da sociabilidade burguesa e como a lógica patriarcal é estruturante desse processo. Concretiza-se, portanto, com essa publicação, a longa trajetória iniciada há cerca de 30 anos por professoras, pesquisadoras e servidoras da Escola de Serviço Social da Universidade Federal do Rio de Janeiro que se dedicaram em transformar essa temática em realidade na pesquisa, na produção e na vida cotidiana. A construção dos debates sobre gênero na formação resultou em disciplina obrigatória curricular, oportunizando aos futuros assistentes sociais o contato com a temática; subsidiou a construção de um coletivo; grupos de pesquisa e extensão, anunciando o necessário e urgente trato do tema.
Em uma intrínseca relação com as lutas sociais expressas nos movimentos sociais, organizações e coletivos, nas demandas apresentadas às instituições em que se legitima a atuação profissional do Serviço Social e um diálogo franco e aberto com diferentes unidades de ensino e entidades representativas da profissão, o feminismo tornou-se objeto de investigação, análise e discussão imprescindíveis para a compreensão da realidade. Parte desse processo de produção, sobretudo no Serviço Social, vem crescendo significativamente nas duas últimas décadas, em decorrência do que se apresenta pela própria realidade: números crescentes e alarmantes de violência doméstica e sexual, feminicídio; as ofensivas do patriarcado contra as conquistas das mulheres, materializadas nas formas de opressão do Estado como as omissões, os descasos, as restrições orçamentárias para o financiamento de políticas públicas e sociais, o incentivo à criação e aprovação de leis que reduzem a autonomia e soberania femininas; o crescente discurso de ódio, de descrédito e de responsabilização das mulheres pelas atrocidades as quais são submetidas reforçam a iniciativa coletiva de promoção desse espaço de diálogo e divulgação dos estudos e pesquisas sobre os feminismos e o serviço social.
Não por um acaso, é no mês de março que abrimos essa chamada, para lembrarmos dos avanços históricos das lutas das mulheres, pela autonomia do corpo, pela liberdade sexual, pelo reconhecimento do trabalho reprodutivo e pelo cruel e injusto lugar que ocupam as mulheres e mais ainda as mulheres negras e indígenas na divisão social e sexual do trabalho. Na eminência de tempos tão reacionários, de reforço a um Estado penal e patriarcal, que promove a necropolítica e o genocídio, reforçamos o convite à pesquisadoras/es que vem contribuindo sobremaneira para desvelar as contradições que produzem as violências de gênero, raça e classe, que conferem visibilidade aos avanços e resistências impulsionados pelas lutas sociais, conferindo o viés teórico e político necessário a um debate crítico acerca da imprescindível relação entre classe-raça e gênero.
Luana Siqueira & Glaucia Lelis
Editoras ad hoc