v. 30 n. 2 (2020): Territórios e lutas sociais: insurgências e resistências contra a mercantilização da vida
Este número da Revista Praia Vermelha é um convite à reflexão sobre as lutas sociais contemporâneas que se travam nos territórios em oposição e resistência ao modelo de “acumulação por desapropriação”, para usar a expressão de David Harvey ao definir a dinâmica atual de saques, pilhagens, rapina generalizada que configura o capitalismo. Na América Latina, o modelo político-econômico adotado, baseado nas monoculturas do agronegócio, na mineração a céu aberto, na especulação imobiliária e nas mega construções de infraestrutura é um modelo especulativo, antes de ser um modelo produtivo. Um modelo predatório do meio ambiente e sem qualquer perspectiva de recuperação, que expulsa com violência, através de destituições, remoções e mortes, as populações tradicionais e pobres de seus territórios urbanos e rurais. Trata-se do warfare, onde guerra e acumulação se tornam sinônimos; quando a forma de governo predominante se faz a partir do domínio da vida pela violência, a chamada militarização da vida. Assim, assistimos à ampliação da violência contra mulheres, negros, indígenas, os que não se enquadram nos padrões heteronormativos e os pobres em geral, numa verdadeira “acumulação por extermínio”,conforme denominação de Raúl Zibechi, que sustenta que o processo de dominação passa pelo genocídio maciço das populações em resistência e que o genocídio étnico-racial é um elemento chave da política do continente latino-americano.
Diante das modalidades predatórias e genocidas do capital, as populações se reorganizam em resistência contra a mercantilização dos territórios e da vida, cuja existência se torna cada dia mais precária, cara, perigosa, impulsionando novos arranjos insurgentes nos quais a questão territorial se recoloca no centro dos processos de disputa entre formas antagônicas de apropriação e uso do espaço e suas riquezas. A centralidade do território como terreno de conflito e disputa também comparece nas lutas do trabalho, coerente com o deslocamento da produção rígida e concentrada na fábrica para a produção flexível, precária e difusa nos territórios, transformando as ruas, praças e demais espaços públicos no lócus privilegiado das lutas sociais contemporâneas. Constatamos, ainda, que as lutas sociais com perfil anticapitalista têm se deslocado do campo das disputas e resistências em âmbito institucional, revelando, inclusive, uma perda de credibilidade nas instituições tradicionais do Estado, assim como nos partidos políticos e sindicatos, ou seja, na democracia representativa, para uma miríade de manifestações em defesa de territórios, seus recursos e seus produtos.
Convidamos autores e autoras a refletir sobre as lutas e resistências por questões vitais, como as que dependem da preservação do meio ambiente, na defesa de emprego, moradia, educação, expressões culturais, entre tantas outras que insurgem em vários países do mundo em um claro embate contra os avanços da mercantilização exacerbada de todos os espaços da vida.
Gabriela Maria Lema Icasuriaga & Cecilia Paiva Neto Cavalcanti
Editoras ad-hoc do dossiê
Diante das modalidades predatórias e genocidas do capital, as populações se reorganizam em resistência contra a mercantilização dos territórios e da vida, cuja existência se torna cada dia mais precária, cara, perigosa, impulsionando novos arranjos insurgentes nos quais a questão territorial se recoloca no centro dos processos de disputa entre formas antagônicas de apropriação e uso do espaço e suas riquezas. A centralidade do território como terreno de conflito e disputa também comparece nas lutas do trabalho, coerente com o deslocamento da produção rígida e concentrada na fábrica para a produção flexível, precária e difusa nos territórios, transformando as ruas, praças e demais espaços públicos no lócus privilegiado das lutas sociais contemporâneas. Constatamos, ainda, que as lutas sociais com perfil anticapitalista têm se deslocado do campo das disputas e resistências em âmbito institucional, revelando, inclusive, uma perda de credibilidade nas instituições tradicionais do Estado, assim como nos partidos políticos e sindicatos, ou seja, na democracia representativa, para uma miríade de manifestações em defesa de territórios, seus recursos e seus produtos.
Convidamos autores e autoras a refletir sobre as lutas e resistências por questões vitais, como as que dependem da preservação do meio ambiente, na defesa de emprego, moradia, educação, expressões culturais, entre tantas outras que insurgem em vários países do mundo em um claro embate contra os avanços da mercantilização exacerbada de todos os espaços da vida.
Gabriela Maria Lema Icasuriaga & Cecilia Paiva Neto Cavalcanti
Editoras ad-hoc do dossiê
Publicado:
2020-10-23