v. 1 n. 2 (2019): Por uma teoria das Ruas

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Editorial:

É com enorme prazer que publicamos o segundo número da Revista Estudos Libertários (REL)! 

Agradecemos a todxs que colaboraram diretamente para que esse trabalho viesse a público. Os membros do conselho editorial, os pareceristas, e mais particularmente, Guilherme Santana, Juan Magalhaes, Isabella Correia, Caroline Lima Dias e Cello Latini que foram fundamentais. O primeiro número teve um enorme impacto. Temos certeza que este número também ajudará a pensar para além da caixinha estadolátrica. 

Na primeira seção, cujo nome é Versão, Lucas Lemos Walmrath nos brindou com a tradução do “Debunking Democracy”, de Bob Black (Robert Charles Black Jr.) publicado originalmente em abril de 2011 nos EUA. Trata-se de texto absolutamente polêmico e igualmente necessário, cujo principal papel é descontruir o conceito de democracia. Nada mais relevante para os nossos dias onde procuram induzir que o povo se autogoverna, mas na verdade é governado em todo lugar em favor dos proprietários das riquezas materiais. 

Na segunda seção, destinada a artigos científicos e inéditos, inauguramos com o paper dos historiadores Carlo Romani e Bruno Corrêa de Sá e Benevides, especialistas em história do anarquismo. Suas contribuições para a REL versam sobre a rede dos anarquistas italianos em São Paulo nos primeiros anos do século XX com ênfase especial para o papel dos redatores do periódico La Battaglia. Trata-se de um texto com um rico debate historiográfico, mergulhando fundo nos debates atuais sobre o significado das lutas anarquistas naquele momento histórico. Um texto obrigatório para pesquisadores da história do movimento operário brasileiro. 

O artigo de Felipe Luiz, no campo da filosofia, trata do pensamento de Michel Foucault. A contribuição ímpar do autor diz respeito a utilização de um marco libertário para analisar algumas questões do clássico francês. Assim, de maneira inteligente, Luiz utiliza os conceitos de centro e periferia de Bakunin, mas abordados por Rudolf de Jong, para pensar “uma leitura do método genealógico de Michel Foucault em um marco libertário”. Assim, o estudo constitui-se em importante termo para aqueles que refletem com algumas categorias de Foucault e também não abrem mão dos princípios do anarquismo, aproximando-os. 

Guilherme Santana e Juan Magalhães buscam com suas pesquisas apresentar um tratado teórico podendo ser aplicado no entendimento dos protestos massivos na América Latina nos anos de 2018/19, bem como de outros momentos históricos. A contribuição dos autores pauta-se na perspectiva de utilização do conceito de “Teoria das ruas” que se contrapõe a “teoria para as ruas”. Destarte, suas propostas partem de categorias de matriz anarquista como ação direta, autogestão, federação e outras com vistas a contribuir para uma chave específica de leitura que jogue luz para as ações autônomas dos governados, sem que sejam tutelados por algum “iluminado”. Para pesquisadores de movimentos sociais e de insurgência e àqueles que querem entender os protestos dos nossos dias, vale demais a leitura.  

Daniel Santos da Silva com a sua pesquisa busca reparar a invisibilidade da obra da militante, feminista e anarquista, Maria Lacerda de Moura. O resgate da história dessa mulher combativa constitui-se por si só em razão de elogio e motivo para leitura do artigo. Mas para além disso, o autor apresenta um importante debate sobre sua trajetória e impacto de suas teses. Vale a leitura.

Hamilton Santos no seu artigo retoma um debate já amplo da historiografia sobre a influência da imigração europeia na formação do movimento operário brasileiro durante as primeiras décadas da Primeira República. Trata-se de importante pesquisa para quem quiser se aprofundar sobre o papel de imigrantes europeus, muitos anarquistas, para a organização operária no Brasil. Leitura essencial para estudantes do tema.

Karime Cheaito traz admirável debate sobre a situação dos refugiados palestinos que migraram para o Líbano a partir dos anos 1940. A autora nos situa quanto a relação existente entre o sistema político libanês, pautado no Confessionalismo, e a forma como os refugiados foram tratados pelo Estado. Com efeito, aprendemos como as relações políticas, econômicas e religiosas estão entrelaçadas também nas disputas do Oriente Médio desde meados do século passado.  

Neste número da REL inauguramos a seção “Entrevistas”. O primeiro entrevistado é o prof. Rômulo Castro. Perguntamos a ele sobre o processo de nomeação de interventores em diversas instituições federais de ensino pelo atual governo. Também procuramos saber sobre assuntos da atual conjuntura, do papel do petismo, do crescimento do proto-fascismo, das contribuições que uma perspectiva libertária pode oferecer e, por fim, como interpretar os movimentos insurgentes na América Latina de hoje sob o viés libertário. Portanto, o entrevistado nos brindou com maravilhosas reflexões sobre os desafios da atualidade para o movimento combativo.  

Fechando o segundo volume da Revista Estudos Libertários, na seção Resenhas, Felipe Corrêa (2014) apresenta as principais teses de seu livro “Bandera Negra: rediscutiendo el anarquismo”. O tema do livro é aquilo que podemos chamar de teoria anarquista. A partir de ampla pesquisa acadêmica, Corrêa desenvolve três eixos de análises: “1) Balanço crítico dos estudos de referência do anarquismo; 2) Proposta de nova abordagem teórico-metodológico para os estudos do anarquismo; 3.) Redefinição do anarquismo, (…) tomando por base a produção escrita de mais de 80 autores/organizações anarquistas e a história global do anarquismo em seus quase 150 anos de existência.” Colaboração fundamental para entendimento da história do movimento e das ideias anarquistas.  

Por fim, resgatamos a letra de um samba eternizado na voz de Clara Nunes que expressa muito bem o objetivo da nossa revista: popular, negra, revolucionária e combativa. Desejamos uma boa leitura dos artigos e que eles sirvam para inspirações ágora-fílicas!  Saudações libertárias!

Publicado: 2019-11-17

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