O verbo “parabenizar” no português brasileiro: etimologia, neologia e o problema do quasi-hápax em morfologia

Autores

DOI:

https://doi.org/10.24206/lh.v7iespec.41149

Palavras-chave:

Derivação sufixal. Neologia. Difusão de neologismos. Sufixo -izar. Etimologia.

Resumo

O verbo parabenizar apresenta uma particularidade em sua formação: seu significado se difere do significado usual dos verbos formados com o sufixo -izar, que é o de “tornar X” (como civilizar – tornar civilizado). Neste texto, discutimos a formação e o significado de parabenizar, bem como sua história no português brasileiro, desde sua criação, em fins do século XIX, até os dias atuais, em que já não é mais sentido como neologismo. A partir da comparação com outros verbos em -izar, propomos considerar esse verbo como um quasi-hápax, por ser um dos poucos verbos em -izar cujo significado é “dizer ‘X’ a” (“dizer ‘parabéns’ a alguém”). Por meio de pesquisas em fontes online, recuperamos diversas atestações do uso desse verbo ao longo da história para mostrar como ele passa de neologismo, inicialmente regional, a verbo plenamente integrado à língua.

Biografia do Autor

Bruno Oliveira Maroneze, Universidade Federal da Grande Dourados

Professor Associado I da Universidade Federal da Grande Dourados (UFGD). Tem graduação em Linguística/Português pela Universidade de São Paulo (2002), mestrado em Filologia e Língua Portuguesa pela Universidade de São Paulo (2005) e doutorado em Filologia e Língua Portuguesa pela Universidade de São Paulo (2011).

Natival Almeida Simões Neto, Universidade Estadual de Feira de Santana; Universidade Federal do Rio de Janeiro

Doutor e Mestre na área de Linguística Histórica pelo Programa de Pós-graduação em Língua e Cultura, da Universidade Federal da Bahia. Graduou-se em Letras Vernáculas nessa mesma universidade. No momento, realiza estágio pós-doutoral no Programa de Pós-graduação em Letras Vernáculas, da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Está também como professor substituto na Universidade Estadual de Feira de Santana e na Universidade Federal da Bahia. Integra o Programa Para a História da Língua Portuguesa (PROHPOR), realizando pesquisas sobre morfologia, léxico, antroponímia e semântica.

Mário Eduardo Viaro, Universidade de São Paulo

Professor livre-docente do Departamento de Letras Clássicas e Vernáculas (DLCV), da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH), da Universidade de São Paulo e orienta nas especialidades Etimologia da Língua Portuguesa e Morfologia Histórica do Português. Bolsista PQ-1D pelo CNPq. Possui Graduação em Linguística / Alemão pela Universidade de São Paulo (FFLCH/USP), Especialização em Tradução (língua alemã - CITRAT/FFLCH), Mestrado e Doutorado (área: Filologia Românica - DLCV/FFLCH) pela mesma universidade.

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Publicado

2021-09-20